segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Lição 13 - Malaquias a sacralidade da familia



INTRODUÇÃO
            Nesta lição estudaremos sobre o último dos profetas Menores - Malaquias. Destacaremos algumas informações a respeito desse profeta, e também a situação em que se encontrava o povo a quem ele profetizou. Veremos qual a mensagem que Deus pronunciou através do seu mensageiro, e que as doutrinas por ele defendidas, aplicam-se ainda hoje para a Igreja. 

I –  INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA MALAQUIAS
1.1 Nome. Seu nome hebraico é Malakhyah, que significa “anjo” ou “mensageiro de Jeová”. Sua forma abreviada é Maleachy“meu mensageiro”. Durante muito tempo não se soube se “Malaquias” era o nome do profeta ou se era uma referência a um mensageiro de Jeová. Mas, é evidente que se trata de um nome próprio, pois nenhum livro dos profetas deixa de trazer seu nome no início da obra (SOARES, 2003, p. 220). Além do seu nome, nada é mais conhecido, pois este profeta não relata em seu livro quem são seus pais, cidade natal ou data do ministério (Ml 1.1). Atradição nos conta que Malaquias era membro da “Grande Sinagoga” e que ele era um levita nascido em Sufa de Zebulom(MOODY, sd, p. 26).
1.2 Livro. O livro do profeta Malaquias é o último do Antigo Testamento e também dos profetas menores.Ele se divide em seis partes. Cada uma começa com uma declaração, seguida de uma objeção na forma de pergunta introduzida por “vós dizeis”ou “perguntais” (Ml 1.2,6 2.14,17; 3.7,13), para depois refutar a objeção. O livro se constitui numa série de censuras contra o povo por causa da ingratidão a Deus e contra a irreverência quanto às coisas sagradas. A infidelidade dos sacerdotes (Ml 1.12,13) e as advertências continuam no capítulo 2, até o versículo 9.  A crise social diz respeito aos casamentos mistos, e o grande índice de divórcio também é parte da censura. É parte da crise espiritual o desprezo pelos dízimos e ofertas (Ml 3.7-11). O capítulo 4 reacende a esperança messiânica com o aparecimento do “Sol da Justiça” (Ml 4.2), precedida pela vinda de Elias (Ml 4.5,6). O livro é citado no Novo Testamento. O profeta anunciou a vinda de Elias, identificado com João Batista, o precursor do Messias, (Ml 3.1; 4.6; Mc 1.2; Mt 11.10,14;17.11).  A célebre frase: “amei a Jacó e aborreci Esaú” (Ml 1.2,3) reaparece em Romanos 9.13 (SOARES, 2003, p. 221).     
1.3 Período que profetizou. Quando Malaquias, cem anos ou mais já haviam decorrido desde a volta dos judeus a Jerusalém, após o cativeiro na Babilônia (MEARS, 1997, p.295).Não há menção dos muros de Jerusalém e nem da construção da Casa de Deus, nem de Esdras e nem de Neemias. Tudo isso nos leva a concluir que a mensagem de Malaquias veio numa época em que o Templo  já estava construído.Parece que seu ministério coincide com o período em que Neemias havia retornado à metrópole, “no ano trinta e dois de Artaxerxes” (Ne 13.6,7), uma referência a Artaxerxes I, conhecido como Longímano, rei da Pérsia que reinou entre 465 e 425 a.C. A Ausência de Neemias na Judéia aconteceu por volta de 433 a 425 a.C. A denúncia do profeta reflete as irregularidades religiosas desse período (SOARES, 2003, p. 220).
II – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NO PERÍODO DE MALAQUIAS
2.1 Situação política. Embora Zorobabel tivesse sido designado governador da Judéia em 537 a.C. e a data do seu falecimento seja incerta, nenhum dos seus filhos foi designado para substituí-lo. Neemias, burocrata judeu da corte de Artaxerxes I, foi designado governador em 444 a.C. e exerceu o cargo até voltar à Pérsia em 432 a.C. (Ne 5.14) (ELISSEN, 2004, p. 344). 
2.2 Situação social e espiritual. O conteúdo do livro do profeta Malaquias nos mostra que o primeiro entusiasmo do retorno da Babilônia havia cessado. Apesar de o templo ter sido reconstruído (516 a.C.), o sistema de culto restaurado de maneira digna por Esdras (457 a.C.) e o muro da cidade reconstruído (444 a.C.), o estado espiritual dos judeus estava de novo em um nível muito baixo. O povo tinha deixado de dar o dízimo, e em consequência as colheitas fracassaram. Os sacerdotes, vendo-se no desamparo, tornaram-se descuidados e indiferentes para com as funções do Templo. A moral mostrava-se frouxa e havia frequentes contatos comprometedores com os pagãos circunvizinhos (ELISSEN, 2004, p. 344).     
III – A MENSAGEM DE DEUS ATRAVÉS DE MALAQUIAS
            O profeta Malaquias inicia sua mensagem da seguinte forma: “Peso da palavra do SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias” (Ml 1.1). Nos livros proféticos do Antigo Testamento, profecias e revelações são chamados de “pesos ou sentenças”, no hebraico“massa”, que nesse contexto quer dizer: “uma mensagem pesada”. Já a expressão “palavra do Senhor” afirma a inspiração de sua mensagem e o fato de que ele foi autorizado por Jeová como mediador ou porta-voz divino. Como tal, Malaquias se pronuncia “contra Israel”, ou seja, em oposição as suas práticas civis, morais e religiosas desprovidas de justiça, santidade e sinceridade. Apesar de Deus tê-los amado (Ml 1.2-a). Os judeus chegaram ao ponto de duvidarem desse amor, por causa das aflições que sofriam (Ml 1.2-b). No entanto, eram eles que haviam deixado de amar e honrar a Deus, pois desobedeceram a sua Lei (Ml 1.6). Por isso, o mensageiro do Senhor, exorta-os severamente por estarem tratando com desprezo coisas que para Deus possuíam grande valor. Vejamos em que pecavam os sacerdotes e os judeus da época de Malaquias:
3.1 Desprezo ao culto (Ml 1.6-8). O profeta Malaquias apresenta uma acusação contra os sacerdotes da terra, pois eles estavam desprezando o Senhor, oferendo-lhe animais aleijados ou doentes “Porque, quando ofereceis animal cego para o sacrifício, isso não é mau? E quando ofereceis o coxo ou enfermo, isso não é mau?” (Ml 1.8-a). A Bíblia nos mostra que a oferta de animais a Deus tinha que estar dentro dos requisitos bíblicos (Lv 22.17-24; Dt 15.21). O profeta pergunta, se presentes imperfeitos apresentados a um governador terrestre seriam ou não ofensivos. Porventura, não seria um insulto muito maior oferecer presentes defeituosos ao Governador do universo? (Ml 1.8-b). Ainda que não dissessem abertamente que a mesa do Senhor fosse desprezível, ao ofertar de forma errada, sua atitude estava dizendo isso (Ml 1.7).
3.2 Desprezo ao matrimônio(Ml 2.11-16). Malaquias repreende os judeus por tratarem de forma leviana o matrimônio. Segundo o relato dos profetas, eles estavam: (1) casando com mulheres pagãs (Ml 2.11), prática esta proibida pela Lei de Moisés                       (Êx 34.15,16; Dt 7.3,4; I Rs 11.1-6; Ed 9.1,2; Ne 13.26, 27); (2) Muitos deles eram infiéis as suas esposas, com as quais haviam se casado quando ainda eram jovens (Ml 2.14). O Senhor deixa claro que DETESTA tal ação, motivado por propósitos egoístas Porque o SENHOR, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio, e aquele que encobre a violência com a sua roupa, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto guardai-vos em vosso espírito, e não sejais desleais (Ml 2.16), pois Ele declara que, do marido e da mulher fez um só (Ml 2.15). Esse pecado é tão grave aos olhos do Senhor, que obstruía as respostas das orações “...de sorte que ele não olha mais para a oferta, nem a aceitará com prazer da vossa mão” (Ml 2.13).   
3.3 Desprezo aos dízimos e as ofertas (Ml 3.8-10). Os judeus estavam roubando a Deus ao deixarem de trazer os dízimos e ofertas “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas” (Ml 3.8). Como podemos ver, a mordomia ou administração falha, do ponto de vista divino, equivale à fraude ou roubo. O dízimo era uma prática feita antes da Lei (Gn 14.18-20; Gn 28.18-22). Mas, foi na Lei, que Deus estabeleceu princípios para a entrega dos dízimos, tais como: (1) o que deveria ser dizimado (Lv 27.30-34); (2) a quem eram entregues os dízimos (Nm 18.21-32); (3) onde deveria ser entregue os dízimos (Dt 12.1-14; 14.22-29; Ml 3.10). Descumprindo a exigência divina, eles encontravam-se sob maldição: “com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação” (Ml 3.9).
IV – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE MALAQUIAS PARA A IGREJA
            A mensagem de Malaquias não ficou restrita apenas ao povo de Judá, mas serve também para a Igreja de Cristo, pois ela contém ordenanças, ensinadas por Jesus Cristo e seus apóstolos no Novo Testamento, os quais são:
4.1 O culto.Por meio do sacrifício de Cristo Jesus, fomos feitos sacerdotes (I Pe 2.9; Ap 1.6; 5.10); e o apóstolo Paulo nos orienta a ofertamos o melhor que possuímos: nossa vida inteira como sacrifício vivo. Isto porque além de sermos os sacerdotes, somos a oferta: “...apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Portanto, antes de trazermos algum sacrifício ao Senhor, devemos nos chegar a Ele da forma como a Sua Palavra nos exorta: “Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa (Hb 10.22).
4.2 O matrimônio.O casamento não foi estabelecido por uma lei humana, nem inventado por alguma civilização. Ele antecede toda a cultura, tradição, povo ou nação, pois é uma instituição divina (Gn 1.27-31; Mc 10.6-9). No projeto de Deus, o casamento é indissolúvel. Ninguém tem autoridade para separar o que Deus uniu. “Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem (Mt 19.6). Portanto, a vontade de Deus para o casamento é que cada cônjuge seja único até que a morte os separe (Mc 10.7-9; Gn 2.24). No entanto, Jesus cita uma exceção, a “prostituição”, palavra que no grego “porneia” inclui o adultério ou qualquer outro tipo de imoralidade sexual (Mt 5.32; 19.9). Embora possa haver perdão e restauração do casamento, que é sem dúvida o que Deus prefere (Ml 2.16).
4.3 Os dízimos e as ofertas.Os cristãos também têm a obrigação de contribuir com os seus dízimos e ofertas para manter a obra do Senhor, poisoSenhor Jesus não apenas reconheceu a importância da prática do dízimo, mas também a recomendou(Mt 23.23); e, o apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios, fez referência ao dízimo para extrair o princípio de que o obreiro é digno do seu salário (I Co 9.9-14; Lv 6.16,26; Dt 18.1). Não esquecendo que Deus prometeu abençoar com: (1) multiplicação(Ml 3.10);                    (2) proteção(Ml 3.11); e (3) prosperidade material(Ml 3.12).
CONCLUSÃO
            Deus levantou o profeta Malaquias com a finalidade de exortar os judeus que voltaram do exílio a fim de melhorarem seus caminhos diante do Senhor, pois eles se tornaram indiferentes e questionavam a justiça de Deus. Os princípios defendidos pelo profeta, tais como: o caráter do culto verdadeiro, a união indissolúvel no casamento, bem como a observância dos dízimos e das ofertas, tanto deveriam ser observados por Judá como também pela Igreja de Cristo.

domingo, 23 de dezembro de 2012

LIÇÃO 12 – ZACARIAS – O REINO MESSIÂNICO


 INTRODUÇÃO
                Nesta lição, estudaremos o livro do profeta Zacarias, que trata basicamente de dois temas principais, a saber: a conclusão do Templo e as Promessas Messiânicas. O Templo que outrora fora destruído por Nabucodonosor, deveria ser reconstruído, mas o povo estava negligenciando tal reconstrução, o que implicou em diversos castigos divinos. A ira do Senhor, porém, haveria de durar só um momento e a libertação de Israel do domínio estrangeiro e a implantação do Reino Messiânico se tornaria uma realidade.

I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA ZACARIAS
                Zacarias foi um sacerdote que voltou para Israel com seu pai e seu avô no primeiro retorno da Babilônia com Zorobabel. É possível constatar isso, observando a contagem sacerdotal registrada no livro de Neemias (Ne 12.4,16). Alguns supõem que o seu pai tenha morrido antes do retorno e que ele tivesse sido criado pelo avô. Possivelmente Jesus se referiu ao profeta Zacarias (Mt 23.35). Dentre os profetas menores, Zacarias é o único que é apontado também como sacerdote. Dentre os profetas maiores, Jeremias e Ezequiel também exerciam ambos ministérios.

1.1 Nome. O nome Zacarias, Zekar-Yahno hebraico, significa “O Senhor se lembrou”. Os nomes de seu pai e de seu avô têm significados interessantes (Zc 1.1). Ido significa “tempo designado”, e Berequias significa “o Senhor abençoa”. Segundo Ellisen (2012, p.389) “até os nomes sugerem a mensagem do livro: O Senhor não esquecerá suas promessas da aliança para abençoar Israel no tempo designado”.

1.2 Livro.  O livro de Zacarias é o mais longo dos Doze Profetas Menores. Ele pode ser dividido em duas partes: a primeira parte (Zc 1-8), começa com uma exortação aos judeus para que voltem ao Senhor e assim também Deus se voltaria a eles (1.1-6). Enquanto encorajava o povo a terminar a reedificação do Templo, o profeta Zacarias recebeu uma série de oito visões (1.7-6.8), garantindo que Deus cuida de seu povo, sendo o Senhor de sua história. As cinco primeiras visões transmitiam esperança e consolação, mas as últimas três apontavam para um juízo. A quarta visão e a cena da coroação de Josué são profecias messiânicas. Já a segunda parte do livro de Zacarias (Zc 9-14), contém dois blocos de profecias apocalípticas. Cada um deles é introduzido pela expressão “Peso da Palavra do Senhor” (9.1; 12.1). O primeiro peso (9.1-11.17) inclui a promessa de salvação messiânica para Israel, mas que o Pastor-Messias seria primeiramente rejeitado e ferido (Zc 11.4-17 cf. 13.7). O “peso” (12.1-14.21) focaliza a restauração e conversão de Israel (12.10). Naquele dia, uma fonte será aberta à Casa de Davi para a purificação do pecado (13.1); então Israel dirá:“O Senhor é o meu Deus” (13.9). E o Messias reinará em Jerusalém (14).

1.3 Período em que profetizou. O profeta Zacarias exerceu o seu ministério entre os anos 520 e 480 a.C. Agora é importante observar que três seções deste livro têm data exata, mas os últimos seis capítulos não têm. Podemos situar (Zc 1.1-6) no ano 520 a.C., pois tal relato se dá pouco mais de um mês após a segunda profecia de Ageu (Ag 2.1). Podemos situar (Zc 1.7-6.15) no ano 519: “Aos vinte e quatro dias do mês undécimo (que é o mês de sebate), no ano segundo de Dario...” (Zc 1.7). E ainda podemos situar Zc 7 e 8 no ano 518 a.C. Já os capítulos 9 ao 14, devem descrever o período de mais ou menos 480 a.C, talvez pelo fato da Grécia começar a se tornar a grande potência mundial.

1.4 Contemporâneos. Zacarias era um contemporâneo do profeta Ageu. Certamente Zacarias era mais jovem. No livro de Esdras está escrito que ambos animaram os judeus, em Judá e Jerusalém, a persistirem na reedificação do Templo nos dias de Zorobabel (Ed 5.1). Como resultado do ministério de Zacarias e Ageu, o Templo foi completado e dedicado por volta do ano 515 a.C.

II – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NA ÉPOCA DE ZACARIAS
Zacarias que começou a profetizar por volta do ano 520 a.C. como os demais judeus, aguardava ansiosamente pela libertação da nação do domínio estrangeiro, e com confiança esperava que um povo renovado fosse governado por um descendente da casa de Davi. O Templo estava sendo reconstruído e os persas não impuseram maiores dificuldades. A verdade é que eles começaram a apoiar um novo governo teocrático que estava surgindo àquela época.

2.1 Situação política. Após os 70 anos de cativeiro na Babilônia, os judeus retornaram, sob a nova política persa que encorajava a volta dos cativos, e lhes foi proporcionada uma nova situação de vida, um distrito na província daquém do rio Eufrates (Ed 1 1-5). Esse tratamento por parte de Ciro pode ter resultado da influência do profeta Daniel. A oposição à reconstrução do Templo veio dos vizinhos samaritanos que tentaram integrar-se com os judeus e misturar as religiões. Essa oposição teve como resultado perseguições, e a construção ficou suspensa durante 14 anos (Ed 4.1-24; 6.1-12).

2.2 Situação espiritual. Em 537 a.C., começou uma grande era para os judeus com a volta do cativeiro e o reinício das ofertas da aliança em Jerusalém. Mas a pausa na reconstrução esfriou o entusiasmo de todos, e eles se voltaram para interesses seculares. Todavia, essas atividades não se mostraram lucrativas, o que pode ter sido um castigo por não terem dado a atenção devida à fundação do novo Templo (Ed 3.12; Ag 1; 2.3). Tal realidade nos mostra que a entrega dos dízimos e das ofertas pode ser considerada uma espécie de termômetro espiritual, pois o povo não estava bem diante de Deus e, por isso, cerrou a sua mão para com o Templo. Depois de 14 anos de negligência para com o Templo, o Senhor lhes mandou seca e má colheita a fim de alertar o povo, e Zacarias foi um dos profetas que apontaram para a causa de todos aqueles males (Zc 1.1-6; 7).
III – CARACTERÍSTICAS DO LIVRO DE ZACARIAS
  • É o livro mais messiânico dos Profetas Menores, e está no mesmo nível de Salmos e Isaías quanto ao conteúdo messiânico;
  • Ele possui as profecias mais específicas e compreensíveis a respeito dos eventos que marcarão o final dos tempos;
  • O livro representa a harmonização mais bem sucedida entre os ofícios sacerdotais e proféticos em toda a história de Israel;
  • Suas visões e linguagem altamente simbólicas assemelham-se aos livros apocalípticos de Daniel e Apocalipse;
  • O livro revela um exemplo notável de ironia divina ao prever a traição do Messias por trinta moedas de prata (Zc 11.13);
  • A profecia a respeito do Messias no capítulo 14, como o grande Rei e Guerreiro, reinando sobre Jerusalém, é uma das que mais inspiram reverente temor em todo o Antigo Testamento.

IV – ALGUMAS OUTRAS CONTRIBUIÇÕES DO LIVRO DE ZACARIAS
                No avanço esmagador dos impérios poderosos da Palestina nos tempos dos gentios, os poucos sobreviventes de Israel seriam atingidos pela voragem das lutas internacionais e desafios religiosos. Mas seu rei, o Messias, viria, primeiro em humildade e rejeição, e mais tarde com grande poder, a fim de trazer salvação espiritual e expressão internacional a seu povo, em cumprimento de suas alianças.

4.1 Um livro apocalíptico. Do mesmo modo que o Novo Testamento termina com uma grande visão apocalíptica, o Antigo Testamento também termina com essa visão, no livro de Zacarias. Ambos os livros resumem e esclarecem profecias já apresentadas em termos de realização. Em Zacarias, as duas vindas do Messias são encaixadas com a intenção de apresentar uma vasta pré-estreia do futuro de Israel. Há um forte paralelo entre o livro do profeta Zacarias e o Apocalipse (Zc 9.9,10; Ap 12.6; 13.5; 14.14). Neste livro, observamos relatos acerca da Grande Tribulação, da Batalha do Armagedom, da segunda fase da Segunda Vinda de Cristo e do Reino Milenial (Zc 12-14).

4.2 Um livro de “mistérios”. Muitos intérpretes, tanto judeus como cristãos, consideram esse livro muito obscuro e de difícil explicação. Mas a profecia não foi escrita para mistificar, e sim para esclarecer as verdades referentes ao futuro de Israel. Quando as verdades centrais das visões são observadas, e todas as visões são relacionadas a profecias anteriores, o motivo messiânico torna-se central durante as lutas e a marcha dos acontecimentos de Israel. Essa profecia forneceu alguns esclarecimentos muito importantes para Israel sobre sua redenção e o futuro nacional, quando o povo entrou em uma outra fase dos tempos dos gentios, com seus anseios ainda não cumpridos a respeito da vinda do Messias (Zc 8.7,8; 9.9,10; 11.9,13; 12.10). O resumo das visões é o seguinte: visão do cavaleiro entre as murtas (1.7-17); visão dos quatro chifres e dos quatro ferreiros (1.18-21); visão de um homem medindo Jerusalém (2.1-13); visão do castiçal de ouro e das duas oliveiras (4.1-14); visão do Rolo voador (5.1-4); visão da mulher num efa (5.5-11); visão dos quatro carros (6.1-8).

4.3 O Dia da batalha. Zacarias concluiu sua profecia com uma descrição da culminante batalha terrena, quando o próprio Senhor se envolverá na peleja. Esse “homem de guerra”, característica do Senhor, foi aludido em (Êx 15.3), dramatizado em (Na 1.2, Hc 2.8-15 e Sf 3.8). Quando o Senhor sair para a peleja, se confrontará com todas as nações reunidas contra Jerusalém (Zc 14.2; Ap 19.9). Suas armas não são reveladas, mas a batalha será ganha (Zc 14.12).

V – O LIVRO DE ZACARIAS E O NOVO TESTAMENTO
                Não há dúvidas acerca da influência do livro de Zacarias nas páginas do Novo Testamento. Vejamos:
5.1 Sacerdote e Profeta.A harmonização da vida pessoal de Zacarias no desenvolvimento dos serviços profético e sacerdotal certamente contribuiu para demonstrar mais à frente que Cristo tanto era profeta como sacerdote.
5.2 A morte de Cristo e o arrependimento dos judeus.Além disso, Zacarias profetizou a respeito da morte expiatória de Cristo pelas mãos dos próprios judeus, que, no fim dos tempos, levará esses mesmos judeus a se arrependerem profundamente de terem crucificado o Messias que eles tanto esperavam. Tal reconhecimento só terá lugar na segunda fase da Segunda Vinda de Cristo (Zc 12.8-10).
5.3 Profecias Messiânicas. Trata-se da contribuição mais importante do livro de Zacarias. Os escritos do Novo Testamento citam Zacarias, declarando que suas profecias foram cumpridas em Jesus Cristo. Vejamos algumas destas profecias:
  • Ele viria de modo humilde e modesto (Zc 9.9; 13.7 cf. Mt 21.5; 26.31,56);
  • Ele restaurará Israel pelo sangue do seu concerto(Zc 9.11 cf. Mc 14.24);
  • Ele seria pastor das ovelhas de Deus que estavam dispersas e desgarradas(Zc 10.2; 13.7 cf. Mt 24.30; 26.31,56);
  • Ele seria traído e rejeitado(Zc 11.12,13 cf Mt 26.15; 27.9,10);
  • Ele seria traspassado e abatido(Zc 12.10; 13.7 cf Mt 24.30; 26.31);
  • Ele Voltaria em glória para livrar Israel de seus inimigos(Zc 14.1-6 cf. Mt 25.31; Ap 19.15);
  • Ele reinará como rei em paz e retidão, bem como estabelecerá seu Reino Glorioso para sempre sobre todas as nações(Zc 9.9,10; 14.6-19 cf. Rm 14.17; Ap 11.15; 21.24-26).

CONCLUSÃO                                 
                Vimos que o livro de Zacarias trata da reconstrução do Templo e da Vinda do Messias a esta terra. Trata-se de um livro de vasto conteúdo escatológico, sendo possível traçar um paralelo com os livros de Daniel e do Apocalipse. Apesar das visões parecerem ser misteriosas, elas são perfeitamente compreensíveis, pois se relacionam com a nação de Israel e com o Messias. O Senhor demonstra ser justo e misericordioso, garantindo um futuro glorioso e de paz ao seu povo, quando o Cristo haverá de reinar sobre a terra com base em Jerusalém.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

LIÇÃO 10 – SOFONIAS – O JUÍZO VINDOURO



INTRODUÇÃO
Sofonias profetizou durante o reinado de Josias, o último governante piedoso de Judá (Sf 1.1). O objetivo de Sofonias foi advertir Judá e Jerusalém quanto ao juízo divino iminente e ameaçador. O juízo divino é chamado, neste livro, de “o grande Dia do Senhor” (Sf 1.14). Embora percebesse um castigo vindouro em escala mundial, sobre outras nações (Sf 1.2; 3.8), Sofonias focalizava, especialmente o julgamento que viria contra Judá (Sf 1.4-18; 3.1-7). Ele faz um apelo à nação para que se arrependa e busque ao Senhor em humildade, antes que o decreto entre em vigor (Sf 2.1-3). Nesta lição, veremos que Deus tem reservado um Dia específico para fazer juízo e justiça a todas as nações.

I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA SOFONIAS
1.1 Nome. Seu nome no hebraico Tsephan-Yah significa “Jeová esconde”. O verbo do qual seu nome deriva ocorre frequentemente com a ideia de ser escondido por Yahweh do mal (Sl 27.5; 31.20), ou seus santos serem tesouros protegidos (Sl 83.3). Foi um dos principais profetas de sua geração e o único Profeta Menor pertencente a família real, pois era filho de Cusi, tataraneto de Ezequias (Sf 1.1). Como podemos ver, ele também é o único profeta do Antigo Testamento que abre o livro de sua profecia apresentando uma longa árvore genealógica (Sf 1.1). E, conforme o registro bíblico, ele profetizou para o Reino do Sul (Judá-Jerusalém) (Sf 1.1-c).
1.2 Livro. Sofonias, é o nono livro dos Profetas Menores, e nele o profeta apresenta um Deus amoroso e severo (Sf 1.2; 3.17).
O primeiro capítulo do seu livro anuncia juízos iminentes sobre Judá em consequência de sua injustiça, hipocrisia e idolatria (1.1-2.3); o segundo, os castigos divinos sobre diversas nações (Sf 2.4-15); e, no terceiro, há uma censura à cidade de Jerusalém e da restauração do remanescente fiel (Sf 3.1-20). Não há citação direta de Sofonias no Novo Testamento, no entanto, temos o seu tipo de linguagem e se suas expressões proféticas como o “Dia da Ira” (Sf 1.15,18; Rm 2.5; Ap 6.17); também o derramamento da “indignação” divina (Sf 3.8; Ap 16.1). E ainda uma profecia que encontra respaldo nas Palavras de Jesus, que assevera que “um dia o homem poderia adorar a Deus em qualquer lugar não só em Jerusalém” (Sf 2.11; Jo 4.21).
1.3 Período que profetizou. A informação biográfica transmitida pelo Livro de Sofonias é que o profeta desenvolveu a sua atividade durante o reinado de Josias, rei de Judá (640-609 a.C) e antes da queda de Nínive em (612 a.C) (Sf 1.1; 2.13).
1.4 Contemporâneos. A tradição diz que Sofonias foi contemporâneo do profeta Jeremias, pois ambos profetizaram durante o reino de Josias (Sf 1.1; Jr 1.2,3) (MEARS, 1997, p. 285). A única diferença entre ambos é porque Sofonias profetizou no início do reinado de Josias, pois ele protestou contra a idolatria que foi removida em seguida, numa grande reforma religiosa (Sf 1.2- 6; 3.1-7); e o profeta Jeremias iniciou seu ministériono final de reinado de Josias (Jr 1.2).
II – A SITUAÇÃO DE ISRAEL NO PERÍODO DE SOFONIAS
2.1 Situação política. Já vimos que Sofonias começou o seu ministério nos primeiros tempos do reinado de Josias “...nos dias de Josias...” (Sf 1.1). Porém, os dois reis que o antecederam, Manassés e Amom (696 a 640 a.C), foram reis perversos que causaram grandes malefícios a Judá, o Reino do Sul (II Re 21.2,3; II Re 21.20,21).
2.2 Situação social. Tanto a o cenário internacional quanto o nacional passavam por profundas transformações. A Assíria estava em declínio, a Babilônia ascendia ao poder sob Nabopolassar, pai de Nabucodonosor; e o Egito penetrava na Palestina, mas não de modo eficiente. Judá tinha se enfraquecido durante o longo reinado de Manassés e era praticamente um escravo da Assíria. Josias começou seu reinado de 31 anos em (640 a.C) com 8 anos de idade, diante de uma nação muito enfraquecida.
2.3 Situação espiritual. Josias começou a reinar após 55 anos de derramamento de sangue e corrupção moral sob Manassés e Amom (II Rs 21). Foi em seu reinado que o culto a Deus foi restaurado, e, freou-se o grave deterioramento que a religiosidade judaica havia sofrido; e foi também então que, tendo se descoberto, em 622 a.C., o “Livro da Lei”, Josias empreendeu a reforma do culto em Jerusalém (2 Rs 22.3; 23.25; 2Cr 34.8; 35.19). Sofonias pode ser considerado o profeta que influenciou Josias a voltar-se para o Senhor e o ajudou nas fases dessa reforma, apresentando ao povo um dos quadros bíblicos mais aterradores do julgamento (II Rs 22.10-13; Sf 1.2-4). O reinado de Josias pode ser dividido em diversos períodos:
• (640 a 632 a.C) - Princípio do reinado até buscar o Senhor aos 16 anos.
• (632 a 629 a.C) - Período do reinado depois de buscar o Senhor, antes da reforma.
• (628 a 621 a.C) - Primeira purificação da idolatria em Jerusalém e todo Israel.
• (621 a 609 a.C) - Posterior purificação depois do Livro da Lei ser encontrado no templo e o povo ter-se reunido para renovação da aliança.
III - A MENSAGEM DO JUÍZO DE DEUS ATRAVÉS DE SOFONIAS
No livro de Sofonias encontramos diversas vezes a expressão “Dia do Senhor” (Sf 1.1,7,8,9,10,14,18; 2.2,3;3.8,20).
Este “DIA” diz respeito a ocasião em que Deus, com base em sua justiça e santidade, julgará a humanidade por haver desprezado a sua vontade. No Velho Testamento o “Dia do Senhor” é usado para descrever julgamentos históricos que já foram cumpridos (Is 13.6-22; Ez 30.2-19; Jl 1.15; 3.14; Am 5.18-20; Sf 1.14-18), e em outras passagens se refere a julgamentos divinos que vão acontecer no fim dos tempos (Jl 2.30-32; Zc 14.1; Ml 4.1,5). Portanto, o termo “Dia do Senhor” significa um juízo presente que alude ao tempo em que Deus trataria o seu povo com punição e cativeiro, mas também diz respeito ao futuro, que é o período da Grande Tribulação (Ap 6.1-17).
3.1 Juízos iminentes sobre Judá em consequência de seus pecados (Sf 1.1-2.3). O profeta observa que Jeová está no meio da terra para julgar (Sf 1.7; 3.5). Ele relata uma série de pecados cometidos pelos habitantes de Judá, tais como: idolatria (1.4-6); avareza (1.11); indiferença total a Deus (1.12; 3.2); rebelião, violência e crime (3.1); lideres que seguem costumes pagãos (1.8- 9); juízes como lobos famintos, que não deixam nem sinal de sua presa (3.3). Por estas práticas eles seriam punidos
severamente: “E estenderei a minha mão contra Judá, e contra todos os habitantes de Jerusalém...” (Sf 3.5-a). Esta sentença aconteceria, se porventura, eles não atendessem a voz divina e se voltassem para o Senhor com arrependimento (Sf 2.1-3).
3.2 Castigos divinos sobre diversas nações (Sf 2.4-15). Agora, o profeta Sofonias, volta-se para as cinco nações pagãs: Filístia, Moabe, Amom, Etiópia e Assíria, profetizando que elas seriam visitadas pela ira de Deus (Sf 2.10). Como se pode ver a desolação de Nínive (capital da Assíria) é descrita em termos admiravelmente precisos (Sf 2.13-15). Os juízos aqui profetizados recaiu sobre os inimigos próximos a Israel, de forma LITERALnaqueles dias (Sf 2.4-15). Porém, o julgamento dos inimigos de Israel espalhados por este mundo ainda aguarda julgamento FUTURO “...porque o meu decreto é ajuntar as nações e congregar os reinos, para sobre eles derramar a minha indignação, e todo o ardor da minha ira...”. (Sf 3.8-b).
3.3 Censura à cidade de Jerusalém e da restauração do remanescente fiel (Sf 3.1-20). Depois de predizer a destruição das nações circunvizinhas, Sofonias retornou ao problema mais imediato – o pecado de Jerusalém. A cidade de Deus e o povo do Senhor tornaram-se poluídos e tão pecadores quanto seus vizinhos pagãos (Sf 3.1-5). Através do profeta, o Senhor repreendeu a diferentes líderes de Jerusalém (Sf 3.3,4). No entanto, apesar desta situação caótica, Deus assegura através do profeta que ainda estava no meio do seu povo (Sf 3.5,11,15,17,). Isto significa dizer que Ele iria restaurar o remanescente judeu. Esta restauração se dará de forma tríplice:
1. Restauração física. Deus os faria voltar dos lugares para onde foram dispersos, e finalmente irão habitar seguros em Jerusalém: “Dalém dos rios da Etiópia, meus zelosos adoradores, que constituem a filha dos meus dispersos, me trarão sacrifício. Naquele dia não te envergonharás de nenhuma das tuas obras, com as quais te rebelaste contra mim; porque então tirarei do meio de ti os que exultam na tua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no meu monte santo”
(Sf 3.10,11).
2. Restauração moral. Embora muitas vezes os judeus foram humilhados diante das nações circunvizinhas, Deus haveria de julgar as nações que os oprimiram, dando atenção especial ao Seu povo “Canta alegremente, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te, e exulta de todo o coração, ó filha de Jerusalém. O SENHOR afastou os teus juízos, exterminou o teuinimigo; o SENHOR, o rei de Israel, está no meio de ti; tu não verás mais mal algum” (Sf 3.14,15).
3. Restauração espiritual. Embora a nação houvesse se corrompido, havia nos dias de Sofonias (passado) e haverá um grupo “remanescente” (futuro), que preservou a Sua fidelidade com Deus “Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do SENHOR. O remanescente de Israel não cometerá iniqüidade, nem proferirá mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa; mas serão apascentados, e deitar-se-ão, e não haverá quem os espante” (Sf 3.12,13).
IV – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE SOFONIAS PARA A IGREJA
O livro de Sofonias nos deixa a mensagem de que Deus executa juízo sobre os ímpios no tempo presente; mas também nos últimos dias, Ele convocará todos os homens para um acerto de contas, conforme anunciado pelos profetas (Is 13.6,9; Ez 13.5; Jl 1.15; 2.1). Todavia, antes que isto aconteça, a Igreja de Cristo tem a responsabilidade de anunciar a todos os homens em todos os lugares que se arrependam das suas más obras (At 17.30), e passem a crer no Unigênito Filho de Deus a fim de que sejam salvos (Jo 3.16; 5.24) e possam estar livres da Ira que está por vir (I Ts 1.10).
CONCLUSÃO
Aprendemos com o profeta Sofonias, que o “Dia do Senhor” refere-se ao pronunciamento de um julgamento específico sobre a nação de Judá (Sf 1.4), e ao julgamento universal do pecado que acontecerá nos últimos dias, onde Deus aplicará seu Juízo sobre a Terra depois que a Igreja for arrebatada (Sf 3.8). Devemos lembrar que diante dessas mensagens, Sofonias convoca o povo a um arrependimento antes da sentença de Deus ser executada, porque Deus é justo e deseja perdoar (Sf 2.3).
Da mesma forma o Senhor chama ao arrependimento todo aquele que necessita aceitá-lo como Salvador.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

LIÇÃO 09 – HABACUQUE – A SOBERANIA DIVINA SOBRE AS NAÇÕES



INTRODUÇÃO
Estudaremos nesta lição, sobre o dilema do “profeta-levita” Habacuque com Deus. Analisaremos, que este servo do Senhor, era um homem que buscava respostas perturbado pelo que observava na sua nação (Reino do Sul -Judá). Em seu livro, o questionamento principal do profeta Habacuque a Deus, resume-se a duas perguntas cruciais: (1) Porque o Senhor contempla a maldade de Judá, e mesmo assim não a castiga? (Hc 1.1-4); e (2) Porque uma nação corrupta como a Babilônia, deveria conquistar a nação de Judá, que era menos má? Por fim, após estas duas perguntas ao Senhor e sua rápida resposta, o profeta termina sua profecia com um dos mais belos cânticos da Bíblia, exaltando ao Senhor apesar da iminente derrota de seu povo pelos caldeus.
I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA HABACUQUE
Asseguram os estudiosos ser Habacuque da tribo de Levi […] O final de seu livro deixa claro que, de alguma forma, ele era também habilitado oficialmente a participar da liturgia do Templo: “... Ao mestre de musica. Para instrumento de corda” (Hc 3.19). O
termo traduzido no texto citado como “instrumento de corda” é neginoth”, que tem em si a ideia de tanger um instrumento. O capitulo 3 de seu livro é um arranjo musical feito por ele mesmo. Logo, acredita-se que ele também era um levita (COELHO; DANIEL, 2012, p. 72). O comentarista da Bíblia Pentecostal diz: “A referência ao “cantor-mor” sobre os instrumentos de música (Hc 3.19), sugere que ele pode ter sido um músico levita a serviço do santo templo em Jerusalém” (STAMPS, 1995, p.1334).
1.1 Nome. O autor deste livro identifica-se como “o profeta Habacuque” (1.1; 3.1). Além disso, não oferece nenhum outro dado acerca de sua pessoa nem de sua família; e como acontece com a maioria dos “Profetas Menores”, quase nada se conhece sobre Habacuque. Ele não é mencionado em nenhum outro lugar da Bíblia (ELLISSEN, 2012, p. 372). Habacuque é um dos profetas pré-exílicos e só ele, em todas as Sagradas Escrituras, recebe esse nome, que pode significar “abraçado”, “abraço” ou “abraço amoroso”. Uma tradição dos rabinos liga o nome do profeta a (2Reis 4.16), fazendo-o filho da sunamita: “Disse-lhe o profeta: Por este tempo, daqui a um ano, ABRAÇARÁS um filho” […]. Segundo especialistas, seu nome deriva provavelmente de um vocábulo assirio usado para designar uma planta hambakuku” . Jerônimo, no quinto seculo d.C., afirmou que o nome do profeta derivava de uma raiz hebraica cujo significado era “segurar”, e que recebera esse nome, ou por causa do seu amor a Deus, ou porque lutara com Ele (COELHO; DANIEL, 2012, pp. 70-71).
1.2 Livro. No livro de Habacuque o autor usa ilustrações e comparações cheias de vida (Hc 1.8,11,14,15; 2.5,11,14,16,17; 3.6,8-11).
Podemos identificar na obra pelo menos três estilos literários distintos: (1) o diálogo entre o homem e Deus, o que faz lembrar uma espécie de diário (Hc 1.1—2.5); (2) um conteúdo semelhante ao dos demais livros proféticos do AT, na passagem dos cinco “ais” (Hc 2.6-20); e (3) uma parte poética,, semelhante aos salmos (Hc 3). Assim, podemos dizer que ele é um diálogo, pode ser uma profecia ou um poema. O livro demonstra a grandeza e a excelência de Deus sobre todas as nações (Hc 2.20; 3.6,12), enfatizando a soberania divina. E destaca com a mesma intensidade a fé dos justos (2.4) e a exultação que deve ser dada ao Senhor (3.18,19).
1.3 Período que profetizou. Há apenas três referencias históricas em todo o livro de Habacuque. A primeira se encontra na declaração “Deus esta no seu santo templo” (2.20) e a segunda, na nota ao final do livro “Ao mestre de musica. Para instrumento de corda”
(3.19); e em Habacuque (1.6) temos a outra referência histórica onde o texto fala da iminência de um ataque dos caldeus. Esses textos indicam claramente que o autor profetizou antes de o Templo construído por Salomão em Jerusalém ser destruído em 586 a.C. por Nabucodonosor. Por isso, a data sugerida para a profecia de Habacuque na maioria dos estudiosos bíblicos a mais provável é a que se situa em 609 a.C., no fim do reinado do bom rei Josias no reino do Sul (Judá), o qual começou seu governo aos oito anos de idade (2 Cr 34.1-33). “O quadro de violência, contendas e apostasias, tão generalizadas em Judá na época de Habacuque (Hc 1.2-4), parece caber dentro do período que se seguiu imediatamente após a morte de Josias, em 609 a.C” (SCHULTZ, 2009, p. 472).
1.4 Contemporâneos. “Habacuque foi contemporâneo de Sofonias e Jeremias em sua terra (Judá) e de Daniel na Babilônia” (MEARS, 1997, p. 282 – grifo nosso).
II – JUDÁ NOS DIAS DE HABACUQUE
2.1 Situação política. O império mundial da Assíria caíra exatamente como Naum havia profetizado. O Egito e a Babilônia disputavam então a posição de liderança. Na batalha de Carquemis, em 605 a.C, na qual Josias foi morto, os babilônios foram vencedores […] Os juízes eram corruptos e julgavam conforme os subornos que recebiam (MEARS, 1997, p. 282).
2.2 Situação social. A reforma de Josias terminou com sua morte em 609 a.C, e as sementes de corrupção plantadas por Manassés frutificaram com rapidez sob o reinado de Jeoaquim, trazendo um desequilíbrio social muito grande […] Judá era corrupto e estava prestes a ser julgado (ELLISSEN, 2012, p. 373).
2.3 Situação espiritual. Os tempos de Habacuque eram críticos. As suas palavras se justificam plenamente pelo contexto político e espiritual de seu tempo. Logo depois da morte do rei Josias. Joacaz, seu filho, assume o trono, mas só reina por três meses. Faraó Neco vem da campanha em Carquemis no Egito (605 a.C), depõe Joacaz e coloca seu irmão, Jeoaquim (ou Eliaquim) no trono, em seu lugar.
Judá (Reino do Sul) começa agora a pagar tributo ao Egito. E pior: a impiedade voltou a reinar como nos dias do rei Manassés (2Cr 33.1- 20; 2Rs 21 1-18) e de seu filho Amom que seguiu bem os passos maus do pai (2 Rs 21.19-26; 2 Cr 33.21-25). As reformas feitas por Josias haviam tido um resultado superficial. Não atingiram em cheio o coração do povo que, mal enterrara seu bom rei, já se entregava de novo ao paganismo (COELHO; DANIEL, 2012, p. 75).
III – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NOS DIAS DE HABACUQUE
Os acontecimentos que acarretaram a destruição de Judá, em 586 a.C, e o exílio de seus habitantes na Babilônia estavam diretamente relacionados à incompetência política de seus líderes e à apostasia religiosa […] (2Rs21; 2Cr 34,35). Quando os assírios foram derrotados em Nínive (612 a.C), o Egito tomou o controle de Judá. Alguns anos depois (605 a.C), a Babilônia derrotou o Egito e levou os judeus cativos para sua terra (2Rs 24.18 - 25.12) (SCHULT; SMITH, 2005, p. 227). Vejamos qual a situação de Judá neste período:
Os justos e os pobres eram oprimidos (1.4;13-15);
O povo vivia em pecado aberto (2.4; 14-15);
Havia adoração aos ídolos (2.18-19).
Mediante esta situação, Habacuque faz uma declaração de que “o justo viverá por sua fé”, onde alguns estudiosos do AT preferem dizer: “o justo por sua fidelidade viverá” (Hc 2.4) que é o texto chave do AT usado pelo apóstolo Paulo em sua Teologia da Justificação como também pelo escritor da Carta aos Hebreus ( Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.37-38). Texto este que refere-se aos exilados que foram levados cativos pelos caldeus, mesmo sendo fieis a Deus, como por exemplo: Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.1-6).
Habacuque tem sido tem sido denominado de “o livro que começou a Reforma” (ELLISSEN, 2012, p. 375). Reflitamos o porquê da punição do Senhor contra Judá:
O Sofrimento é fruto diretamente do pecado (Gn 3. 13-19; Rm 5.12; 3.23; 8.20);
Deus não é o culpado pelo sofrimento do povo (Pv 26.2; Lm 1.8,9,14,18,20,22);
Existe a Lei da semeadura (Gn 37.20-28; 42.21-22; 2Sm 16.22; Mt 7.1-2; 2Tm 3.13; Gl 6.7-8; 2Co 9.6; Mt 6.19-20; Tg 5.24; Ec 8.11-13; Os 5.7-8; 10.13; Pv 22.8; Jó 4.8; Et 3.6,8,9; 5.14; 10.8);
A situação trágica de Judá foi causa dos seus próprios pecados (Jr 26.7-11,16; Lm 4.13; Jr 42.14; Lm 4.17);
O homem queixa-se dos seus próprios pecados (Gn 50.20; Lm 3.39; Pv 19.3; Mq 7.9).
IV – A ESTRUTURA DA MENSAGEM DO LIVRO DE HABACUQUE
Diferentemente da maioria dos profetas, Habacuque não profetiza à desviada Judá (Reino do Sul). Ele escreveu para ajudar o remanescente piedoso a compreender os caminhos de Deus no tocante à sua nação pecaminosa (STAMPS, 1995, p.1335). Analisemos a divisão da estrutura deste livro:
• Em (Hc 1. 5-11) Deus diz ao profeta o que ele está prestes a fazer. Revela o poderio do terrível inimigo de Judá e a devastação que deixará em sua passagem. Descreve a arrogância e o orgulho do inimigo em atribuir seu êxito ao seu próprio deus e à sua própria grandeza;
• Em (Hc 1. 12 - 2:1) vemos o modo pelo qual o profeta luta com este problema;
• Em (Hc 2. 1-20) o profeta versa sobre o gracioso tratamento de Deus com Habacuque, e o modo como ele capacita o profeta a compreender a situação geral. Deus lhe dá uma visão maravilhosa do futuro, e como no final, se resolverá perfeitamente;
• Em (Hc 3. 1 - 19) o livro descreve a reação do profeta mediante sua “visão” mostrada pelo Senhor e seu registro de um dos mais belos hinos do AT. Vejamos um rápida análise deste hino profético considerado como um belíssimo salmo litúrgico:
Os salmos não eram apenas cantados, também eram entoados. Por isso, seus compositores costumavam fornecer, juntamente com suas composições, algumas informações, tais como o instrumento adequado ao cântico, o tom em que ele deveria ser tocado e, as vezes, até a voz mais apropriada. Podemos ver isso nas epígrafes dos salmos (4, 5, 6, 8, 9, 12, 22, 45, 46, 53-62, 67, 69, 75, 76, 80, 81, 84, 88, etc). O Salmo 46, por exemplo, de autoria dos filhos de Coré deveria ser cantado em voz de soprano; e o 6, de Davi, com instrumentos de corda em tom de oitava. O final do livro de Habacuque mostra que o capitulo 3 de seu livro é um arranjo musical feito por ele
mesmo. Logo, acredita-se que ele também era um levita (COELHO; DANIEL, 2012, p. 72 ).
V – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE HABACUQUE PARA A IGREJA
O justo não vive pelo que vê, sente, percebe, imagina ou pensa, mas pela fé. “Porque andamos por fé e não por vista” (2Co 5.7). Não que essas coisas não sirvam, vez por outra, para alimentar a nossa fé, mas não podem ser consideradas fundamento para ela.
Nossa fé está fundamentada no próprio Deus, e também em sua Palavra. O justo está baseado nela. Sua sobrevivência e êxito dependem da Palavra de Deus (SI 1.1-3). Jesus deixou isso bem claro em seu Sermão da Montanha, na metáfora das casas edificadas sobre a areia e a rocha (Mt 7.24-27). Em outras palavras, nenhuma adversidade, por mais intensa e intransigente que seja, é eficiente o bastante para desestruturar a vida daquele que vive sinceramente pela fé. Se a vida do servo de Deus em por fundamento qualquer coisa que não seja a verdadeira fé, ela desmorona já na primeira intempérie.
5.1 Habacuque, “um tipo” de Cristo. Normalmente, o ministério profético é diferenciado do sacerdotal da seguinte forma: enquanto o sacerdote apresenta diante de Deus as causas humanas (Lv 4.26), o profeta faz caminho inverso, entregando ao povo aquilo que recebeu do próprio Deus (Jr 1.5). Assim, o ministério sacerdotal é intercessor, enquanto o profético é caracterizado pela transmissão da orientação divina ao povo. Os dois eram bem definidos e se completavam. Lemos que Habacuque, apesar de ser profeta, exerceu um ministério intercessor assim como Cristo (Is 53.12; Rm 8.34; Hb 7.25). Ele não apenas profetizou como Cristo, mas também intercedeu fervorosamente pelo seu povo, como fez nosso amado Senhor (Hb 4.14-16).
CONCLUSÃO
Aprendemos com o profeta levita, que o homem sofre por causa de seus pecados cometidos, e que o Senhor sempre está disposto a conceder uma nova oportunidade, mas, para perdoar, sempre usará a disciplina como fez com Judá e como um pai que ama seu filho (Pv 3.12). Entendemos também que, seja qual for a situação de nossa vida, devemos permanecer fiéis aos Senhor “o justo por sua fidelidade viverá” (Hc 2.4), e louvá-lo sob qualquer circunstância (3.17-19).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LIÇÃO 08 – NAUM - O LIMITE DA TOLERÂNCIA DIVINA



INTRODUÇÃO
Nínive, a capital do império Assírio, compõe uma boa parte do livro de Naum. Nesta lição veremos que a notícia de sua iminente destruição trouxe alívio para o Reino do Sul (Judá-Jerusalém), que estava sujeita a dominação assíria. O profeta portador das boas novas noticiou que Judá não seria mais forçada a pagar tributos como um seguro contra invasões e isto proporcionou alegria aos judeus por saberem que Deus é Justo e que ainda estava no controle. Veremos ainda que Nínive é um exemplo para todos os governantes, nações e pessoas do mundo, de que todo aquele que volta contra Deus, vivendo dissolutamente em pecado, irá sofrer a devida punição.
I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA NAUM
1.1 Nome. Do hebraico Nahum significa “conforto ou confortador”. Como podemos ver, o seu nome revela o propósito de Deus em levantá-lo como profeta, que é o de trazer consolo ao Reino do Sul (Judá-Jerusalém) (Na 1.7). Este homem de Deus é mais um que pertence ao grupo de profetas sem biografia, exceto que ele é descrito como “o elcosita” (Na 1.1), ou seja, um nativo da vila de Elcos, cuja localização é incerta. Todavia, a maioria dos estudiosos supõe que esta vila pertencia a cidade de Cafarnaum, que significa “vila de Naum” (cidade em que Jesus fora criado) (Mt 9.1). Ela está localizada na parte norte da Galiléia. Sugere-se ainda que Naum fosse profeta de Judá, pois o Reino do Norte (Israel-Samaria), já tinha sido levado ao cativeiro.
1.2 Livro. Seu livro é o sétimo dos profetas Menores e contém apenas três capítulos. É um dos três livros proféticos do AT, cuja mensagem é dirigida quase que exclusivamente a uma nação estrangeira (os outros dois são Obadias e Jonas). Naum teve duplo propósito em seu livro: (1) Deus o usou para pronunciar a destruição iminente da ímpia e cruel Nínive (Na 1.1-6; 3.1-4); (2) Ao mesmo tempo, o profeta entrega uma mensagem de consolo ao povo de Deus (Na 1.12,13,15). Este consolo advém, não da destruição dos inimigos, mas em saber que Deus preserva a justiça no mundo. Há uma referência do livro do profeta no NT, onde o apóstolo Paulo usou a linguagem figurada “dos pés formosos” para destacar que, assim como o mensageiro no AT foi acolhido com júbilo pelo povo de Deus ao trazer-lhe as boas novas de paz e livramento das mãos da Assíria (Na 1.15), de igual forma os mensageiros do Novo Concerto levam as boas novas de salvação ao mundo (Rm 10.15).
1.3 Período que profetizou. Naum é um dos Profetas Menores que não menciona o período em que profetizou, no entanto, indícios internos, existentes no seu livro, oferecem evidências fidedignas que nos dão condições de datar o seu ministério entre 663 e 612 a.C. pois, em (Na 3.8-10), refere-se o profeta a queda de Nô-Amon (a cidade egípcia de Tebas) como evento passado, ocorrido em 663 a.C. E, em (Na 1.14), ele profetizou a queda de Nínive que historicamente ocorreu em 612 a.C.
1.4 Contemporâneos. Considerando que Naum profetizou entre 663 a 612 a.C, os profetas que profetizaram neste período foram Sofonias e Jeremias no Reino no Sul (Sf 1.1; Jr 1.3).
II – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NO PERÍODO DE NAUM
Apesar do livro de Naum estar repleto de profecias concernentes a Nínive, a capital da Assíria, encontramos também registros proféticos direcionados ao Reino do Sul (Judá-Jerusalém) (Na 1.7,12,13,15). Estas mensagens anunciadas pelo profeta traziam alento e consolação para os judeus, visto que estavam amedrontados, pois o Reino do Norte já havia sido levado ao cativeiro pelos assírios em 722 a.C conforme profetizado por Oseias e Amós (Os 11.7; Am 7.11). Vejamos qual a situação de Judá no período do profeta:
2.1 Situação política. Estudiosos afirmam que o rei de Judá no tempo de Naum era Josias. Ele foi o rei de Judá no período de 640 a 609 a.C. (II Rs 22.23; 2 Cr 34 e 35). Seu avô, o perverso rei Manassés reinara por 55 anos; perseguiu as pessoas piedosas e reprimiu a verdadeira religião em Judá. Seu pai, Amom, governou apenas 2 anos (II Re 21.19-26; 2 Cr 33.21-25) e deu continuidade às práticas malignas de Manassés; seu reinado foi interrompido por intrigas na corte que culminaram com seu assassinato (II Rs 21.24). Nessa época difícil, Josias chegou ao trono, com apenas 8 anos de idade (II Re 22.1).
2.2 Situação social. O reinado de Josias concedeu a Judá um certo alívio da pressão Assíria, que durante um século controlou a política, a religião e a vida social dos judeus. Porém, no final do século VII, o extenso império assírio foi ameaçado pelos caldeus, quando Nínive não teve forças para enfrentar Nabopolassar, rei da Babilônia (625 a 605 a.C). Por isso, entrou em colapso após a queda de sua principal cidade, Nínive (612 a.C), conforme profetizado por Naum (Na 1.8,14).
2.3 Situação espiritual. O Rei Josias introduziu reformas religiosas maravilhosas em Judá, e, devido a este reavivamento espiritual, Deus os defendeu (2 Reis 22 e 23). Seu perfil espiritual assemelha-se ao de Davi, no sentido de que “E fez o que era reto aos olhos do SENHOR...”; e andou em todo o caminho de Davi, seu pai, e não se apartou dele nem para a direita nem para a esquerda” (II Rs 22.2). A Bíblia ainda diz que Ele buscou a Deus (II Cr 34.3); aos 16 anos erradicou sistematicamente o paganismo (II Re 23.4-16); e aos 20 anos acabou com a profanação da terra e a purificou, quando destruiu os lugares altos, os postes ídolos. Até os túmulos dos sacerdotes idólatras foram profanados e seus ossos queimados sobre os altares pagãos (II Cr 34.3-7; I Rs 13.2). Quando Naum chamou o povo de Judá a celebrar as suas festas (Na 1.15), sem dúvida ele relembrou a famosa celebração da páscoa nos dias de Josias, como registra as Escrituras (2 Rs 23.21).
III – A MENSAGEM DE DEUS ATRAVÉS DE NAUM
No original hebraico (Na 1.2-8) representa um salmo ou poema em três estrofes descrevendo a majestade de Deus quando Ele se manifesta na terra. Vejamos alguns atributos morais de Deus descritos por Naum em seu livro:
3.1 “O SENHOR é Deus zeloso e vingador...” (Na 1.2). De modo semelhante a Miqueias (Mq 1.3-7), o profeta Naum principia sua profecia dando ênfase a grande ira do Senhor contra o pecado e sua vinda para trazer julgamento aos perversos (Na 1.2,6). Nessa passagem, entretanto, encontramos sua ira dirigindo-se mais aos inimigos de Israel do que aos israelitas (Na 1.12,13). Naum descreve o Senhor como como um Deus“zeloso e vingativo”, que virá com ira abrasadora contra seus inimigos. Esse caráter zeloso de Deus foi apresentado em (Êx 20.5), e mais tarde com mais detalhes em (Dt 32.21).
3.2 “O SENHOR é tardio em irar-se...” (Na 1.3). A expressão “tardio em irar-se” alude a longanimidade ou paciência de Deus em relação ao homem (Êx 34.6,7; Nm 14.18; Ne 9.17; Sl 103.8; Jl 2.13). A longanimidade é a qualidade de autodomínio em face da provocação que não retalia impetuosamente ou castiga prontamente. Portanto, Deus é cheio de compaixão e graça (Sl 86.15) e sua longanimidade visa o benefício do homem tentando conduzi-lo ao arrependimento (Rm 2.4; 9.22,23). Deus havia estendido sua clemência a Nínive em resposta ao seu arrependimento mediante a pregação de Jonas (Jn 3.8-10; 4.2). No entanto, aproximadamente 150 anos mais tarde, o profeta Naum é levantado por Deus para desta vez pronunciar o irremediável juízo contra esta sanguinária cidade, a quem Deus destruiria completamente (Na 1.14).
3.3 “O SENHOR é bom...” (Na 1.7). Enquanto Deus se mostra para os ninivitas como um Deus “zeloso, vingativo e paciente”, para Judá (Reino do Sul), Ele se apresenta como um Deus bom, que protege seu povo e destrói seus inimigos. O Senhor conhece aqueles que lhe pertencem e serve de refúgio para os que nele confiam (Na 1.7). Deus iria romper com o jugo assírio que estava sobre o seu povo (Na 1.13), e restaurar a sua condição (Na 2.2), por isso o convida a celebrar as festas religiosas em gratidão ao Senhor, porque seus inimigos seriam de todo consumidos (Na 1.15).
IV – O JULGAMENTO DIVINO SOBRE NÍNIVE
Nenhum outro livro da Bíblia é tão enfático na mensagem de julgamento e misericórdia não aproveitada, como no Livro de Naum. Ele é o livro que sem dúvida Jonas desejaria ter escrito (ELLISEN, 2012, p. 318). Nele o profeta anuncia a queda de Nínive, capital da Assíria, uma grande potência mundial, que parecia uma nação aparentemente impossível de ser detida. No entanto, por meio do profeta, Deus diz que não reteria a sua ira para sempre, pois além de ser “zeloso e vingador” (Na 1.2), “...ao culpado não tem por inocente...” (Na 1.3). Ou seja, desta vez o Senhor não os pouparia e iria destruir esta pomposa cidade com seus habitantes (Na 1.8). A história diz que aliando entre si as suas forças, medos e babilônios vieram contra a Assíria, efetuando a destruição de Nínive, em 612 a.C. No espaço de poucos anos, o forte império assírio foi absorvido pelos vencedores. De acordo com a profecia de Naum, aconteceu que uma súbita enchente do rio Tigre fez ruir uma grande parte da muralha, o que ajudou o exército atacante a destruir a cidade “as portas dos rios se abrirão, e o palácio será dissolvido” (Na 2.6) (MEARS, 1997, p. 278).
V – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE NAUM PARA A IGREJA
Como podemos perceber, a visão de Naum acerca de Nínive constitui-se num alerta quanto a realidade de que Deus pune aqueles que rejeitam o seu convite de arrependimento (Ez 7.9; Am 3.2). Nínive simboliza todas as nações que voltam as costas para Deus. Portanto, o indivíduo, ou a nação, que deliberada e definitivamente rejeita a Deus, escolhe a sua própria ruína. Na verdade, Ele não está alheio aos pecados cometidos pelos homens, pois tem reservado um dia em que julgará os vivos e mortos por meio de seu Filho Jesus Cristo (At 17.31). O fato é que Deus, por sua longanimidade está concedendo tempo ao mundo para que se arrependa (II Pe 3.9,10).
CONCLUSÃO
Concluímos dizendo que embora o pecado e a violência possam ficar sem punição por algum tempo dentro da longanimidade de Deus, todavia, não serão esquecidos (Ez 7.3; I Pe 4.3-5). É interessante destacar que apesar de Ele ser “tardio em irar-se” e estar sempre interessado em mostrar-se misericordioso (Ez 33.11; I Tm 2.4), não é absolutamente imune à ira quando a sua Lei não é obedecida e o seu favor desprezado (Os 4.6; Ap 2.21). Enquanto que o livro de Jonas apresenta a misericórdia aos que se arrependem, o livro de Naum, mostra o juízo sobre os impenitentes.