sexta-feira, 30 de novembro de 2012

LIÇÃO 09 – HABACUQUE – A SOBERANIA DIVINA SOBRE AS NAÇÕES



INTRODUÇÃO
Estudaremos nesta lição, sobre o dilema do “profeta-levita” Habacuque com Deus. Analisaremos, que este servo do Senhor, era um homem que buscava respostas perturbado pelo que observava na sua nação (Reino do Sul -Judá). Em seu livro, o questionamento principal do profeta Habacuque a Deus, resume-se a duas perguntas cruciais: (1) Porque o Senhor contempla a maldade de Judá, e mesmo assim não a castiga? (Hc 1.1-4); e (2) Porque uma nação corrupta como a Babilônia, deveria conquistar a nação de Judá, que era menos má? Por fim, após estas duas perguntas ao Senhor e sua rápida resposta, o profeta termina sua profecia com um dos mais belos cânticos da Bíblia, exaltando ao Senhor apesar da iminente derrota de seu povo pelos caldeus.
I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA HABACUQUE
Asseguram os estudiosos ser Habacuque da tribo de Levi […] O final de seu livro deixa claro que, de alguma forma, ele era também habilitado oficialmente a participar da liturgia do Templo: “... Ao mestre de musica. Para instrumento de corda” (Hc 3.19). O
termo traduzido no texto citado como “instrumento de corda” é neginoth”, que tem em si a ideia de tanger um instrumento. O capitulo 3 de seu livro é um arranjo musical feito por ele mesmo. Logo, acredita-se que ele também era um levita (COELHO; DANIEL, 2012, p. 72). O comentarista da Bíblia Pentecostal diz: “A referência ao “cantor-mor” sobre os instrumentos de música (Hc 3.19), sugere que ele pode ter sido um músico levita a serviço do santo templo em Jerusalém” (STAMPS, 1995, p.1334).
1.1 Nome. O autor deste livro identifica-se como “o profeta Habacuque” (1.1; 3.1). Além disso, não oferece nenhum outro dado acerca de sua pessoa nem de sua família; e como acontece com a maioria dos “Profetas Menores”, quase nada se conhece sobre Habacuque. Ele não é mencionado em nenhum outro lugar da Bíblia (ELLISSEN, 2012, p. 372). Habacuque é um dos profetas pré-exílicos e só ele, em todas as Sagradas Escrituras, recebe esse nome, que pode significar “abraçado”, “abraço” ou “abraço amoroso”. Uma tradição dos rabinos liga o nome do profeta a (2Reis 4.16), fazendo-o filho da sunamita: “Disse-lhe o profeta: Por este tempo, daqui a um ano, ABRAÇARÁS um filho” […]. Segundo especialistas, seu nome deriva provavelmente de um vocábulo assirio usado para designar uma planta hambakuku” . Jerônimo, no quinto seculo d.C., afirmou que o nome do profeta derivava de uma raiz hebraica cujo significado era “segurar”, e que recebera esse nome, ou por causa do seu amor a Deus, ou porque lutara com Ele (COELHO; DANIEL, 2012, pp. 70-71).
1.2 Livro. No livro de Habacuque o autor usa ilustrações e comparações cheias de vida (Hc 1.8,11,14,15; 2.5,11,14,16,17; 3.6,8-11).
Podemos identificar na obra pelo menos três estilos literários distintos: (1) o diálogo entre o homem e Deus, o que faz lembrar uma espécie de diário (Hc 1.1—2.5); (2) um conteúdo semelhante ao dos demais livros proféticos do AT, na passagem dos cinco “ais” (Hc 2.6-20); e (3) uma parte poética,, semelhante aos salmos (Hc 3). Assim, podemos dizer que ele é um diálogo, pode ser uma profecia ou um poema. O livro demonstra a grandeza e a excelência de Deus sobre todas as nações (Hc 2.20; 3.6,12), enfatizando a soberania divina. E destaca com a mesma intensidade a fé dos justos (2.4) e a exultação que deve ser dada ao Senhor (3.18,19).
1.3 Período que profetizou. Há apenas três referencias históricas em todo o livro de Habacuque. A primeira se encontra na declaração “Deus esta no seu santo templo” (2.20) e a segunda, na nota ao final do livro “Ao mestre de musica. Para instrumento de corda”
(3.19); e em Habacuque (1.6) temos a outra referência histórica onde o texto fala da iminência de um ataque dos caldeus. Esses textos indicam claramente que o autor profetizou antes de o Templo construído por Salomão em Jerusalém ser destruído em 586 a.C. por Nabucodonosor. Por isso, a data sugerida para a profecia de Habacuque na maioria dos estudiosos bíblicos a mais provável é a que se situa em 609 a.C., no fim do reinado do bom rei Josias no reino do Sul (Judá), o qual começou seu governo aos oito anos de idade (2 Cr 34.1-33). “O quadro de violência, contendas e apostasias, tão generalizadas em Judá na época de Habacuque (Hc 1.2-4), parece caber dentro do período que se seguiu imediatamente após a morte de Josias, em 609 a.C” (SCHULTZ, 2009, p. 472).
1.4 Contemporâneos. “Habacuque foi contemporâneo de Sofonias e Jeremias em sua terra (Judá) e de Daniel na Babilônia” (MEARS, 1997, p. 282 – grifo nosso).
II – JUDÁ NOS DIAS DE HABACUQUE
2.1 Situação política. O império mundial da Assíria caíra exatamente como Naum havia profetizado. O Egito e a Babilônia disputavam então a posição de liderança. Na batalha de Carquemis, em 605 a.C, na qual Josias foi morto, os babilônios foram vencedores […] Os juízes eram corruptos e julgavam conforme os subornos que recebiam (MEARS, 1997, p. 282).
2.2 Situação social. A reforma de Josias terminou com sua morte em 609 a.C, e as sementes de corrupção plantadas por Manassés frutificaram com rapidez sob o reinado de Jeoaquim, trazendo um desequilíbrio social muito grande […] Judá era corrupto e estava prestes a ser julgado (ELLISSEN, 2012, p. 373).
2.3 Situação espiritual. Os tempos de Habacuque eram críticos. As suas palavras se justificam plenamente pelo contexto político e espiritual de seu tempo. Logo depois da morte do rei Josias. Joacaz, seu filho, assume o trono, mas só reina por três meses. Faraó Neco vem da campanha em Carquemis no Egito (605 a.C), depõe Joacaz e coloca seu irmão, Jeoaquim (ou Eliaquim) no trono, em seu lugar.
Judá (Reino do Sul) começa agora a pagar tributo ao Egito. E pior: a impiedade voltou a reinar como nos dias do rei Manassés (2Cr 33.1- 20; 2Rs 21 1-18) e de seu filho Amom que seguiu bem os passos maus do pai (2 Rs 21.19-26; 2 Cr 33.21-25). As reformas feitas por Josias haviam tido um resultado superficial. Não atingiram em cheio o coração do povo que, mal enterrara seu bom rei, já se entregava de novo ao paganismo (COELHO; DANIEL, 2012, p. 75).
III – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NOS DIAS DE HABACUQUE
Os acontecimentos que acarretaram a destruição de Judá, em 586 a.C, e o exílio de seus habitantes na Babilônia estavam diretamente relacionados à incompetência política de seus líderes e à apostasia religiosa […] (2Rs21; 2Cr 34,35). Quando os assírios foram derrotados em Nínive (612 a.C), o Egito tomou o controle de Judá. Alguns anos depois (605 a.C), a Babilônia derrotou o Egito e levou os judeus cativos para sua terra (2Rs 24.18 - 25.12) (SCHULT; SMITH, 2005, p. 227). Vejamos qual a situação de Judá neste período:
Os justos e os pobres eram oprimidos (1.4;13-15);
O povo vivia em pecado aberto (2.4; 14-15);
Havia adoração aos ídolos (2.18-19).
Mediante esta situação, Habacuque faz uma declaração de que “o justo viverá por sua fé”, onde alguns estudiosos do AT preferem dizer: “o justo por sua fidelidade viverá” (Hc 2.4) que é o texto chave do AT usado pelo apóstolo Paulo em sua Teologia da Justificação como também pelo escritor da Carta aos Hebreus ( Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.37-38). Texto este que refere-se aos exilados que foram levados cativos pelos caldeus, mesmo sendo fieis a Deus, como por exemplo: Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.1-6).
Habacuque tem sido tem sido denominado de “o livro que começou a Reforma” (ELLISSEN, 2012, p. 375). Reflitamos o porquê da punição do Senhor contra Judá:
O Sofrimento é fruto diretamente do pecado (Gn 3. 13-19; Rm 5.12; 3.23; 8.20);
Deus não é o culpado pelo sofrimento do povo (Pv 26.2; Lm 1.8,9,14,18,20,22);
Existe a Lei da semeadura (Gn 37.20-28; 42.21-22; 2Sm 16.22; Mt 7.1-2; 2Tm 3.13; Gl 6.7-8; 2Co 9.6; Mt 6.19-20; Tg 5.24; Ec 8.11-13; Os 5.7-8; 10.13; Pv 22.8; Jó 4.8; Et 3.6,8,9; 5.14; 10.8);
A situação trágica de Judá foi causa dos seus próprios pecados (Jr 26.7-11,16; Lm 4.13; Jr 42.14; Lm 4.17);
O homem queixa-se dos seus próprios pecados (Gn 50.20; Lm 3.39; Pv 19.3; Mq 7.9).
IV – A ESTRUTURA DA MENSAGEM DO LIVRO DE HABACUQUE
Diferentemente da maioria dos profetas, Habacuque não profetiza à desviada Judá (Reino do Sul). Ele escreveu para ajudar o remanescente piedoso a compreender os caminhos de Deus no tocante à sua nação pecaminosa (STAMPS, 1995, p.1335). Analisemos a divisão da estrutura deste livro:
• Em (Hc 1. 5-11) Deus diz ao profeta o que ele está prestes a fazer. Revela o poderio do terrível inimigo de Judá e a devastação que deixará em sua passagem. Descreve a arrogância e o orgulho do inimigo em atribuir seu êxito ao seu próprio deus e à sua própria grandeza;
• Em (Hc 1. 12 - 2:1) vemos o modo pelo qual o profeta luta com este problema;
• Em (Hc 2. 1-20) o profeta versa sobre o gracioso tratamento de Deus com Habacuque, e o modo como ele capacita o profeta a compreender a situação geral. Deus lhe dá uma visão maravilhosa do futuro, e como no final, se resolverá perfeitamente;
• Em (Hc 3. 1 - 19) o livro descreve a reação do profeta mediante sua “visão” mostrada pelo Senhor e seu registro de um dos mais belos hinos do AT. Vejamos um rápida análise deste hino profético considerado como um belíssimo salmo litúrgico:
Os salmos não eram apenas cantados, também eram entoados. Por isso, seus compositores costumavam fornecer, juntamente com suas composições, algumas informações, tais como o instrumento adequado ao cântico, o tom em que ele deveria ser tocado e, as vezes, até a voz mais apropriada. Podemos ver isso nas epígrafes dos salmos (4, 5, 6, 8, 9, 12, 22, 45, 46, 53-62, 67, 69, 75, 76, 80, 81, 84, 88, etc). O Salmo 46, por exemplo, de autoria dos filhos de Coré deveria ser cantado em voz de soprano; e o 6, de Davi, com instrumentos de corda em tom de oitava. O final do livro de Habacuque mostra que o capitulo 3 de seu livro é um arranjo musical feito por ele
mesmo. Logo, acredita-se que ele também era um levita (COELHO; DANIEL, 2012, p. 72 ).
V – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE HABACUQUE PARA A IGREJA
O justo não vive pelo que vê, sente, percebe, imagina ou pensa, mas pela fé. “Porque andamos por fé e não por vista” (2Co 5.7). Não que essas coisas não sirvam, vez por outra, para alimentar a nossa fé, mas não podem ser consideradas fundamento para ela.
Nossa fé está fundamentada no próprio Deus, e também em sua Palavra. O justo está baseado nela. Sua sobrevivência e êxito dependem da Palavra de Deus (SI 1.1-3). Jesus deixou isso bem claro em seu Sermão da Montanha, na metáfora das casas edificadas sobre a areia e a rocha (Mt 7.24-27). Em outras palavras, nenhuma adversidade, por mais intensa e intransigente que seja, é eficiente o bastante para desestruturar a vida daquele que vive sinceramente pela fé. Se a vida do servo de Deus em por fundamento qualquer coisa que não seja a verdadeira fé, ela desmorona já na primeira intempérie.
5.1 Habacuque, “um tipo” de Cristo. Normalmente, o ministério profético é diferenciado do sacerdotal da seguinte forma: enquanto o sacerdote apresenta diante de Deus as causas humanas (Lv 4.26), o profeta faz caminho inverso, entregando ao povo aquilo que recebeu do próprio Deus (Jr 1.5). Assim, o ministério sacerdotal é intercessor, enquanto o profético é caracterizado pela transmissão da orientação divina ao povo. Os dois eram bem definidos e se completavam. Lemos que Habacuque, apesar de ser profeta, exerceu um ministério intercessor assim como Cristo (Is 53.12; Rm 8.34; Hb 7.25). Ele não apenas profetizou como Cristo, mas também intercedeu fervorosamente pelo seu povo, como fez nosso amado Senhor (Hb 4.14-16).
CONCLUSÃO
Aprendemos com o profeta levita, que o homem sofre por causa de seus pecados cometidos, e que o Senhor sempre está disposto a conceder uma nova oportunidade, mas, para perdoar, sempre usará a disciplina como fez com Judá e como um pai que ama seu filho (Pv 3.12). Entendemos também que, seja qual for a situação de nossa vida, devemos permanecer fiéis aos Senhor “o justo por sua fidelidade viverá” (Hc 2.4), e louvá-lo sob qualquer circunstância (3.17-19).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LIÇÃO 08 – NAUM - O LIMITE DA TOLERÂNCIA DIVINA



INTRODUÇÃO
Nínive, a capital do império Assírio, compõe uma boa parte do livro de Naum. Nesta lição veremos que a notícia de sua iminente destruição trouxe alívio para o Reino do Sul (Judá-Jerusalém), que estava sujeita a dominação assíria. O profeta portador das boas novas noticiou que Judá não seria mais forçada a pagar tributos como um seguro contra invasões e isto proporcionou alegria aos judeus por saberem que Deus é Justo e que ainda estava no controle. Veremos ainda que Nínive é um exemplo para todos os governantes, nações e pessoas do mundo, de que todo aquele que volta contra Deus, vivendo dissolutamente em pecado, irá sofrer a devida punição.
I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA NAUM
1.1 Nome. Do hebraico Nahum significa “conforto ou confortador”. Como podemos ver, o seu nome revela o propósito de Deus em levantá-lo como profeta, que é o de trazer consolo ao Reino do Sul (Judá-Jerusalém) (Na 1.7). Este homem de Deus é mais um que pertence ao grupo de profetas sem biografia, exceto que ele é descrito como “o elcosita” (Na 1.1), ou seja, um nativo da vila de Elcos, cuja localização é incerta. Todavia, a maioria dos estudiosos supõe que esta vila pertencia a cidade de Cafarnaum, que significa “vila de Naum” (cidade em que Jesus fora criado) (Mt 9.1). Ela está localizada na parte norte da Galiléia. Sugere-se ainda que Naum fosse profeta de Judá, pois o Reino do Norte (Israel-Samaria), já tinha sido levado ao cativeiro.
1.2 Livro. Seu livro é o sétimo dos profetas Menores e contém apenas três capítulos. É um dos três livros proféticos do AT, cuja mensagem é dirigida quase que exclusivamente a uma nação estrangeira (os outros dois são Obadias e Jonas). Naum teve duplo propósito em seu livro: (1) Deus o usou para pronunciar a destruição iminente da ímpia e cruel Nínive (Na 1.1-6; 3.1-4); (2) Ao mesmo tempo, o profeta entrega uma mensagem de consolo ao povo de Deus (Na 1.12,13,15). Este consolo advém, não da destruição dos inimigos, mas em saber que Deus preserva a justiça no mundo. Há uma referência do livro do profeta no NT, onde o apóstolo Paulo usou a linguagem figurada “dos pés formosos” para destacar que, assim como o mensageiro no AT foi acolhido com júbilo pelo povo de Deus ao trazer-lhe as boas novas de paz e livramento das mãos da Assíria (Na 1.15), de igual forma os mensageiros do Novo Concerto levam as boas novas de salvação ao mundo (Rm 10.15).
1.3 Período que profetizou. Naum é um dos Profetas Menores que não menciona o período em que profetizou, no entanto, indícios internos, existentes no seu livro, oferecem evidências fidedignas que nos dão condições de datar o seu ministério entre 663 e 612 a.C. pois, em (Na 3.8-10), refere-se o profeta a queda de Nô-Amon (a cidade egípcia de Tebas) como evento passado, ocorrido em 663 a.C. E, em (Na 1.14), ele profetizou a queda de Nínive que historicamente ocorreu em 612 a.C.
1.4 Contemporâneos. Considerando que Naum profetizou entre 663 a 612 a.C, os profetas que profetizaram neste período foram Sofonias e Jeremias no Reino no Sul (Sf 1.1; Jr 1.3).
II – A SITUAÇÃO DE JUDÁ NO PERÍODO DE NAUM
Apesar do livro de Naum estar repleto de profecias concernentes a Nínive, a capital da Assíria, encontramos também registros proféticos direcionados ao Reino do Sul (Judá-Jerusalém) (Na 1.7,12,13,15). Estas mensagens anunciadas pelo profeta traziam alento e consolação para os judeus, visto que estavam amedrontados, pois o Reino do Norte já havia sido levado ao cativeiro pelos assírios em 722 a.C conforme profetizado por Oseias e Amós (Os 11.7; Am 7.11). Vejamos qual a situação de Judá no período do profeta:
2.1 Situação política. Estudiosos afirmam que o rei de Judá no tempo de Naum era Josias. Ele foi o rei de Judá no período de 640 a 609 a.C. (II Rs 22.23; 2 Cr 34 e 35). Seu avô, o perverso rei Manassés reinara por 55 anos; perseguiu as pessoas piedosas e reprimiu a verdadeira religião em Judá. Seu pai, Amom, governou apenas 2 anos (II Re 21.19-26; 2 Cr 33.21-25) e deu continuidade às práticas malignas de Manassés; seu reinado foi interrompido por intrigas na corte que culminaram com seu assassinato (II Rs 21.24). Nessa época difícil, Josias chegou ao trono, com apenas 8 anos de idade (II Re 22.1).
2.2 Situação social. O reinado de Josias concedeu a Judá um certo alívio da pressão Assíria, que durante um século controlou a política, a religião e a vida social dos judeus. Porém, no final do século VII, o extenso império assírio foi ameaçado pelos caldeus, quando Nínive não teve forças para enfrentar Nabopolassar, rei da Babilônia (625 a 605 a.C). Por isso, entrou em colapso após a queda de sua principal cidade, Nínive (612 a.C), conforme profetizado por Naum (Na 1.8,14).
2.3 Situação espiritual. O Rei Josias introduziu reformas religiosas maravilhosas em Judá, e, devido a este reavivamento espiritual, Deus os defendeu (2 Reis 22 e 23). Seu perfil espiritual assemelha-se ao de Davi, no sentido de que “E fez o que era reto aos olhos do SENHOR...”; e andou em todo o caminho de Davi, seu pai, e não se apartou dele nem para a direita nem para a esquerda” (II Rs 22.2). A Bíblia ainda diz que Ele buscou a Deus (II Cr 34.3); aos 16 anos erradicou sistematicamente o paganismo (II Re 23.4-16); e aos 20 anos acabou com a profanação da terra e a purificou, quando destruiu os lugares altos, os postes ídolos. Até os túmulos dos sacerdotes idólatras foram profanados e seus ossos queimados sobre os altares pagãos (II Cr 34.3-7; I Rs 13.2). Quando Naum chamou o povo de Judá a celebrar as suas festas (Na 1.15), sem dúvida ele relembrou a famosa celebração da páscoa nos dias de Josias, como registra as Escrituras (2 Rs 23.21).
III – A MENSAGEM DE DEUS ATRAVÉS DE NAUM
No original hebraico (Na 1.2-8) representa um salmo ou poema em três estrofes descrevendo a majestade de Deus quando Ele se manifesta na terra. Vejamos alguns atributos morais de Deus descritos por Naum em seu livro:
3.1 “O SENHOR é Deus zeloso e vingador...” (Na 1.2). De modo semelhante a Miqueias (Mq 1.3-7), o profeta Naum principia sua profecia dando ênfase a grande ira do Senhor contra o pecado e sua vinda para trazer julgamento aos perversos (Na 1.2,6). Nessa passagem, entretanto, encontramos sua ira dirigindo-se mais aos inimigos de Israel do que aos israelitas (Na 1.12,13). Naum descreve o Senhor como como um Deus“zeloso e vingativo”, que virá com ira abrasadora contra seus inimigos. Esse caráter zeloso de Deus foi apresentado em (Êx 20.5), e mais tarde com mais detalhes em (Dt 32.21).
3.2 “O SENHOR é tardio em irar-se...” (Na 1.3). A expressão “tardio em irar-se” alude a longanimidade ou paciência de Deus em relação ao homem (Êx 34.6,7; Nm 14.18; Ne 9.17; Sl 103.8; Jl 2.13). A longanimidade é a qualidade de autodomínio em face da provocação que não retalia impetuosamente ou castiga prontamente. Portanto, Deus é cheio de compaixão e graça (Sl 86.15) e sua longanimidade visa o benefício do homem tentando conduzi-lo ao arrependimento (Rm 2.4; 9.22,23). Deus havia estendido sua clemência a Nínive em resposta ao seu arrependimento mediante a pregação de Jonas (Jn 3.8-10; 4.2). No entanto, aproximadamente 150 anos mais tarde, o profeta Naum é levantado por Deus para desta vez pronunciar o irremediável juízo contra esta sanguinária cidade, a quem Deus destruiria completamente (Na 1.14).
3.3 “O SENHOR é bom...” (Na 1.7). Enquanto Deus se mostra para os ninivitas como um Deus “zeloso, vingativo e paciente”, para Judá (Reino do Sul), Ele se apresenta como um Deus bom, que protege seu povo e destrói seus inimigos. O Senhor conhece aqueles que lhe pertencem e serve de refúgio para os que nele confiam (Na 1.7). Deus iria romper com o jugo assírio que estava sobre o seu povo (Na 1.13), e restaurar a sua condição (Na 2.2), por isso o convida a celebrar as festas religiosas em gratidão ao Senhor, porque seus inimigos seriam de todo consumidos (Na 1.15).
IV – O JULGAMENTO DIVINO SOBRE NÍNIVE
Nenhum outro livro da Bíblia é tão enfático na mensagem de julgamento e misericórdia não aproveitada, como no Livro de Naum. Ele é o livro que sem dúvida Jonas desejaria ter escrito (ELLISEN, 2012, p. 318). Nele o profeta anuncia a queda de Nínive, capital da Assíria, uma grande potência mundial, que parecia uma nação aparentemente impossível de ser detida. No entanto, por meio do profeta, Deus diz que não reteria a sua ira para sempre, pois além de ser “zeloso e vingador” (Na 1.2), “...ao culpado não tem por inocente...” (Na 1.3). Ou seja, desta vez o Senhor não os pouparia e iria destruir esta pomposa cidade com seus habitantes (Na 1.8). A história diz que aliando entre si as suas forças, medos e babilônios vieram contra a Assíria, efetuando a destruição de Nínive, em 612 a.C. No espaço de poucos anos, o forte império assírio foi absorvido pelos vencedores. De acordo com a profecia de Naum, aconteceu que uma súbita enchente do rio Tigre fez ruir uma grande parte da muralha, o que ajudou o exército atacante a destruir a cidade “as portas dos rios se abrirão, e o palácio será dissolvido” (Na 2.6) (MEARS, 1997, p. 278).
V – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE NAUM PARA A IGREJA
Como podemos perceber, a visão de Naum acerca de Nínive constitui-se num alerta quanto a realidade de que Deus pune aqueles que rejeitam o seu convite de arrependimento (Ez 7.9; Am 3.2). Nínive simboliza todas as nações que voltam as costas para Deus. Portanto, o indivíduo, ou a nação, que deliberada e definitivamente rejeita a Deus, escolhe a sua própria ruína. Na verdade, Ele não está alheio aos pecados cometidos pelos homens, pois tem reservado um dia em que julgará os vivos e mortos por meio de seu Filho Jesus Cristo (At 17.31). O fato é que Deus, por sua longanimidade está concedendo tempo ao mundo para que se arrependa (II Pe 3.9,10).
CONCLUSÃO
Concluímos dizendo que embora o pecado e a violência possam ficar sem punição por algum tempo dentro da longanimidade de Deus, todavia, não serão esquecidos (Ez 7.3; I Pe 4.3-5). É interessante destacar que apesar de Ele ser “tardio em irar-se” e estar sempre interessado em mostrar-se misericordioso (Ez 33.11; I Tm 2.4), não é absolutamente imune à ira quando a sua Lei não é obedecida e o seu favor desprezado (Os 4.6; Ap 2.21). Enquanto que o livro de Jonas apresenta a misericórdia aos que se arrependem, o livro de Naum, mostra o juízo sobre os impenitentes.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

LIÇÃO 07 – MIQUEIAS – A IMPORTÂNCIA DA OBEDIÊNCIA



INTRODUÇÃO
Miqueias foi um homem corajoso, dotado de fortes convicções e de rara fé pessoal. Champlin resumiu muito bem o caráter e as atitudes dele ao escrever que as características de Miqueias eram moralidade estrita, inflexível devoção à justiça tanto na Lei quanto nas ações práticas, e grande simpatia para com os pobres (2004, p. 3570). O que mais perturbava o profeta Miqueias eram as injustiças sociais que ocorriam em seus dias (Mq 3.4). Tais injustiças, segundo o profeta, só poderiam ser apagadas mediante um verdadeiro reavivamento (Mq 4.6; At 2:42-47).

I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA MIQUEIAS
1.1 Nome. O nome Miqueias, vem de uma palavra hebraica “Mikhah” que significa “Quem é como Yahweh?”. Um nome semelhante a Micael: “Quem é como Elohim?”. O nome é adequado para o homem que perguntou: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade, e te esqueces da transgressão do restante da tua herança?
(Mq 7:18). O Deus de Israel é incomparável, e essa ideia proporciona a base para o pensamento e a proclamação do profeta em todo seu livro. Existem poucas informações sobre Miqueias. Além da pequena introdução do livro (Mq 1.1),
só é mencionado em (Jr 26.18), onde certos anciãos citaram (Mq 3.12), uma palavra de julgamento contra Jerusalém nos dias do rei Ezequias.
1.2 Livro. O Livro do profeta Miqueias consiste numa mensagem de três partes: (1) Recrimina Israel (Samaria) e Judá (Jerusalém) pelos seus pecados específicos que incluem a idolatria, o orgulho, a opressão aos pobres, os subornos entre os líderes, a cobiça e a avareza, a imoralidade e a religião vazia (Miq 2.2,8,9,11; 3.1-3,5,11); (2) Adverte que o castigo divino está para vir em decorrência de tais pecados (Mq 3.12; 5.1); (3) Promete que a verdadeira paz, retidão e justiça, prevalecerão quando o Messias estiver reinando (Mq 4.1-7). O Livro ainda traz uma das mais grandiosas expressões da Bíblia sobre a misericórdia de Deus e a sua Graça perdoadora (Mq 7.18-20); também expressa três importantes profecias citadas noutras partes da Bíblia: uma que salvou a vida de Jeremias (Mq 3.12; Jr 26.18,19), outra que diz a respeito ao local onde o Messias haveria de nascer (Mq 5.2; Mt 2.5,6); e ainda uma outra citada pelo próprio Senhor Jesus (Mq 7.6; Mt 10.35,36).
1.3 Período que profetizou. O Ministério do profeta Miqueias foi exercido durante o os reinados de três reis de Judá:
Jotão (751-736 a.C), Acaz (736-716 a.C) e Ezequias (715-687 a.C). Algumas de suas profecias foram proferidas no tempo de Ezequias (conforme Jr 26.18). Porém, a maioria delas reflete a condição de Judá durante os reinados de Jotão e de Acaz, antes das reformas promovidas por Ezequias. Não há dúvida de que o seu ministério, juntamente com o de Isaías, ajudou a promover o avivamento e as reformas dirigidas pelo justo rei Ezequias.
1.4 Contemporâneos. Os profetas Isaías e Amós viveram na mesma época do profeta Miqueias (Mq 1.1,14; Is 1.1).
Isaías era profeta da corte e Miqueias do campo. Ambos viveram no período áureo da profecia hebraica. Há quem afirme que Miqueias foi discípulo de Isaías. O fato de serem contemporâneos não é base para se fundamentar essa relação entre os profetas. Isaías era culto, conselheiro do rei, e vivia no palácio real, em Jerusalém, ao passo que Miqueias era homem do povo e muito simples.
II – A SITUAÇÃO DE ISRAEL E JUDÁ NO PERÍODO DE MIQUEIAS
As profecias de Miqueias foram proferidas durante o reinado de Jotão, Acaz e Ezequias, que reinaram consecutivamente de 740 a 697 a.C. Sua parte principal, entretanto, deve ter sido proferida durante os reinados de Acaz e Ezequias, antes da queda de Samaria em 722 a.C. O objetivo do profeta era demonstrar o peso da ira divina sobre a nação, em virtude dos seus pecados de violência e injustiça social, enquanto fingiam ser religiosos (Mq 1.1-5).
2.1 Situação política. O profeta Miqueias predisse, com exatidão, a queda de Israel - Reino do Norte; Samaria ou Efraim (Mq 1.6,7); profetizou uma destruição semelhante para o povo de Judá e Jerusalém (Reino do Sul) em consequência dos seus graves pecados (Mq 4.9-11); as profecias, preservam a grave mensagem do profeta Miqueias às últimas gerações de Judá antes de os babilônios invadirem a nação (Mq 4.10).
2.2 Situação social. O povo de Judá e de Israel foram contemplados pela profecia de Miqueias, mostrando que o Senhor é responsável por julgar a falta de temor do povo para com Ele. O profeta denuncia os falsos profetas (Mq 3.5,6,7), os lideres desonestos e os sacerdotes ímpios que enganavam o povo e os conduziam ao pecado, ao invés de direcioná-los a uma vida mais próxima de Deus (Mq 3.9-12; 4.12).
2.3 Situação espiritual. As palavras do profeta Miqueias demonstram um Deus real que odeia o pecado, e que adota a postura de um justo juiz, pronto para administrar o castigo a todos aqueles que desafiam a sua autoridade (Mq 1.5; 6.7,8).
III – RAZÃO E PROPÓSITO DO LIVRO DO PROFETA MIQUEIAS
Em sete capítulos, o profeta Miqueias apresenta seu verdadeiro retrato sobre Deus – O Senhor Deus é Supremo, que odeia o pecado e ama o pecador. A maior parte do livro é dedicada a descrever o castigo de Deus sobre Israel (o Reino do Norte), Judá (o Reino do Sul) e sobre todos os habitantes da Terra (Mq 1.5); e o profeta Miqueias faz uma lista destas práticas abomináveis diante da face do Senhor Deus. Vejamos alguns pecados relacionados pelo profeta: desonestidade (Mq 2.2); corrupção (Mq 2.10); cobiça (Mq 2.9); falsidade ( Mq 2.11); falso ensino (Mq 3.5), dentre outros.
IV – CRISTO NO LIVRO DE MIQUEIAS
Dois textos do Profeta Miqueias falam do Reino do Messias e de sua vinda. Nos “últimos dias”, Ele reinará no monte Sião, onde prevalecerão a verdade, a justiça, a prosperidade e a paz. Ali os coxos e os aflitos estarão reunidos a fim de formar o núcleo da sua poderosa nação (Mq 4.1-7). A profecia revela que esse reino não começará ostentando grandeza, pois o próprio Messias nascerá na pequena vila de Belém, lugar de criação de carneiros (Mq 5.2). Ele, que é Eterno, virá de Deus como Pastor de Israel. Mas antes que o Messias se torne grande até os confins da terra, a nação será abandonada pelo Senhor por um tempo, no fim do qual Ele surgirá para pastorear o seu povo com grande majestade (Mq 5.3-4).
V – PRINCÍPIOS DO EVANGELHO NO LIVRO DE MIQUEIAS
No Antigo Testamento, não se encontra um resumo da Lei mais descomplicado e mais profundo do que o do livro do profeta Miqueias. Suas exigências são simples e sem rodeios: “...praticar a justiça, amar a bondade, e andar humildemente com o Senhor (Mq 6.6-8). Do mesmo modo o Senhor Jesus resumiu a Lei como amar (Mt 22.35-40; Mc 12.28-31; Tg 2.8) para os insensíveis líderes do seu tempo.
5.1 Praticar a Justiça. Os termos bíblicos, no hebraico, tsedeq” “tsadaqah”, como também o vocábulo grego dikaiosune, são traduzidos em português por “justiça ou retidão”. Essas palavras são usadas no tocante a Deus (Dt 32.4; Ed 9.15; Ne 9.33; Sl 7.11) e aos homens (Gn 6.9; 18.24; 20.4; Dt 25.1; Jó 1.1,8). A justiça é um dos atributos
comunicáveis de Deus, sendo investida no homem através de Cristo, por meio da conversão (Jo 3.3; 2 Co 5.17; Ef 4.23,24; Cl 3.10), da santificação e do continuo ministério do Espírito Santo (Rm 8.4,5,6,14; 1Co 3.16; 2 Co 1.22; 3.17; Ef 1.13; Fp 3.3); e assim, o homem vai absolvendo a forma de justiça e da santidade divina;
5.2 Amar a Bondade. O amor é a essência de todas as virtudes morais de Cristo originadas pelo Espírito Santo, e implantadas no crente (1 Jo 4.7; Cl 3.14;Rm 5.5; 1 Co 13.13). Já a bondade, denota serviço ou ministério em favor do próximo, um espírito de generosidade colocado em prática, concernente a servir e a doar. É o resultado natural da benignidade – a manifestação da ternura, compaixão e brandura (Rm 15.14; Gl 5.22; Ef 5.9; 1 Ts 1.11);
5.3 Andar humildemente com o Senhor. A metáfora do ato de andar, expressa a natureza geral da vida espiritual (Gn 5.22; 6.9; 17.1; 24.40; Ef 5.2; Cl 2.6; 1 Jo 2.6). O exemplo do crente é o Senhor Jesus Cristo, o qual como homem, enfrentou as mesmas tentações, mas triunfou sobre o pecado (Hb 5.8,9). A expressão “humildemente”, por sua vez; significa: qualidade de ser humilde. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é considerada uma das principais virtudes, que nos resguarda do orgulho humano (Pv 15.33; 22.4; At 20.19; Ef 4.1,2; Fp 2.3; Tg 4.6; 1 Pe 5.5).
VI – A IMPORTÂNCIA DA OBEDIÊNCIA
A palavra Obediência vem do latim “Obedientia” e significa: sujeição, guardar, submeter à autoridade; agir de acordo com as ordens recebidas. É o mais forte indício da fé em Deus. A obediência é imposta pelo Senhor a todos aqueles que lhe servem (Det 13.4); é essencial à fé (Hb 11.6); é o resultado para quem dá credito à voz de Deus (Êx
19.5,6); manifesta-se através da submissão do servo ao seu senhor (Rm 13.1); O Senhor Jesus é o supremo exemplo de obediência (Mt 3.15; Fil 2.5-8); deve ser uma das características dos santos (I Pe 1.14); deve proceder do próprio coração e nunca por obrigação (Det 11.13; Rm 6.17). Vejamos alguns exemplos bíblicos de obediência: Noé (Gen 6.22); Abraão (Gen 12.1-4); Elias ( I Reis 17.5); Jesus ( João 7.16; 12.4; 14.10,24); Paulo ( At 26.19).
CONCLUSÃO
O Profeta Miqueias tinha plena consciência das injustiças praticadas e só fez comentários a esse respeito naquilo em que essas condições estavam vinculadas à situação moral e religiosa do povo. Sua mensagem pode ser resumida com as suas próprias palavras “Mas, decerto, eu sou cheio da força do Espirito do Senhor e cheio de juízo e de ânimo, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Mq 3.8). Há algumas semelhanças entre o que acontece nos dias de hoje com alguns fatos na época do Profeta Miqueias; por isso, sejamos verdadeiros arautos do reino celestial, denunciando o pecado e anunciando a volta do Filho do Homem (Mc 13.32-37).

terça-feira, 6 de novembro de 2012

LIÇÃO 06 – JONAS – A MISERICÓRDIA DIVINA



INTRODUÇÃO
O Livro de Jonas é considerado como o “João 3.16” do AT e contém o relato do maior avivamento registrado na Bíblia onde toda a cidade de Nínive abandonou os seus caminhos iníquos e voltou-se para Deus (Jn 3.1-10). A lição de Jonas nos mostra as consequências que sobrevêm aos que deliberadamente desobedecem ao chamado de Deus. Estudaremos acerca deste profeta, considerado-o missionário do AT. Ele foi enviado a uma nação idólatra para anunciar o Deus Verdadeiro. Porém, esta lição também se torna uma advertência para nós, pois nos lembra que não podemos nos esconder diante dos olhos do SENHOR.
I – INFORMAÇÕES SOBRE O PROFETA JONAS
Identificado como “filho de Amitai” (2Rs 14.25; Jn 1.1), Jonas do hebraico “Yonah” era natural da pequena vila de Gate-Hefer que distava uns 4 Km ao norte de Nazaré, na Galileia. A tradição judaica diz ser ele o filho da viúva de Sarepta que foi ressuscitado por Elias, mas isso nunca obteve uma sólida confirmação (ELLISEN, 2012, p. 350). Portanto, Jonas era galileu, bem como Naum e Malaquias. É mencionado como sendo um profeta de Israel durante o reinado de Jeroboão II no distrito da tribo de Zebulom atual Mashhad (2Rs 24.25; Js 9.1) […] Ao que parece, foi por meio de suas palavras de incentivo que Jeroboão II recuperou os territórios perdidos anteriormente para os sírios (2Rs 10.32-33) e trouxe de volta um pouco da glória dos dias de Davi e Salomão (1Rs 8.65) [...]
(GARDNER, 2005, p. 371). O livro narra dois grandes milagres: o primeiro é a experiência do profeta no ventre do grande peixe (Jn 2.1- 10), e o segundo é a conversão inteira de Nínive, uma cidade pagã (3.1-10).
1.1 Nome. Jonas, cujo nome significa pomba” era um nome muito comum em Israel […] era dado pelas mães aos seus filhos como um título afetuoso, pois a pomba é uma ave que demonstra muito carinho com os outros membros da sua espécie [...] (CHAMPLIN, 2001, p. 3547). Foi um profeta do Reino do Norte conhecido também como Samaria ou Efraim, e seu vaticínio aos ninivitas não foi o único de seu ministério. No período do rei Jeroboão II, quando era rei de Samaria, este restabeleceu os termos de Israel de acordo com uma profecia do profeta Jonas (2Rs 14.23-25). Jonas foi chamado para pregar aos inimigos do povo de Deus, os assirios (Jn 1.1), que tinham um histórico de maldades e crueldades para com os povos dominados.
1.2 Livro. Este livro, diferentemente de qualquer outro do AT, contém de forma clara a mensagem da graça salvífica de Deus tanto para judeus como para gentios. Jonas de forma diferente dos outros profetas de Israel (Reino do Norte) e de Judá (Reino do Sul), foi chamado por Deus, para fazer algo que não estava em seu coração. Assim sendo, ele fugiu para escapar da desagradável tarefa de pregar à pagã cidade de Nínive que ficava cerca de 960 Km a nordeste da Galileia, viagem que durava em torno de três meses.
(SCHULTZ, 2009, p. 3553).
1.3 Período que profetizou. O período histórico do ministério de Jonas é narrado com detalhes em II Reis 14 e 15 e, nesses tempos, a Assíria exercia seu poderio no Oriente Médio. Era uma nação cruel e detestada por suas práticas desumanas. Jonas viveu na época de Jeroboão II, entre 793-753 a.C, quando o reino de Israel vivia sob pressão dos assírios (SOARES, 2003, p.209). O nome do rei ninivita impactado com a pregação de Jonas, segundo se diz, é Adade-Nirari III, falecido em 783 a.C. Nínive era a capital do império assírio – inimigos declarados do povo de Israel.
1.4 Contemporâneos. O ministério de Jonas teve lugar pouco depois do profeta Elias (2Rs 13.14-19), que coincidiu parcialmente com o profeta Amós (Am 1.1) e foi seguido pelo profeta Oseias (Os 1.1) (STAMPS, 1997, p.1313).
II – A SITUAÇÃO DE ISRAEL E NÍNIVE
2.1 Situação política. A relação da Assíria com Israel (Reino do Norte) não era das melhores. Israel pagava tributos à Assíria até que Jeroboão II rebelou-se contra seus inimigos (2Rs 10.32-33; 1Rs 8.65). Independência política, expansão e prosperidade caracterizaram a nação de Israel durante o clímax do sucesso de Jeroboão II […] A dinastia de Jeú eventualmente conduziu o reino do Norte (Samaria ou Efraim) ao pico do prestígio econômico e político, durante a primeira metade do século VIII a.C. (SCHULTZ, 2009, p. 438).
2.2 Situação social. Israel sentia-se seguro e estava em ascensão, enquanto a Assíria achava-se em declínio político (ELLISEN, 2012, p. 353). As relações comerciais se expandiram e o comércio internacional floresceu acima de qualquer coisa que Israel conhecera desde os dias de Salomão. Nesta época de êxito comerciais e de expansão territorial, a cidade de Samaria (Reino do Norte) fortificou-se diante da possibilidade de invasão estrangeira (SCHULTZ, 2009, p. 439).
2.3 Situação espiritual. Quando Israel (Reino do Norte) atingiu seu período culminante, apareceram dois profetas: Amós e Oseias.
Cada um deles, por sua vez, procurou despertar os cidadãos de Israel de sua letargia espiritual, mas nenhum deles conseguiu desviar o povo da apostasia (SCHULTZ, 2009, p. 440).
III – CONHECENDO UM POUCO A CIDADE DE NÍNIVE
Geograficamente, Nínive estava localizada a leste do rio Tigre e distante aproximadamente 960 Km de Israel, uma viagem de três meses nos tempos antigos. A Cidade de Nínive (atual Iraque) foi fundada por Ninrode, filho de Cam, neto de Noé, por volta de 4500 a.C. (Gn 10.11-12). Assíria é conhecida como o país de Ninrode (Mq 5.6), vindo Nínive a se tornar a capital do império assírio. Esta cidade é mencionada no tempo do rei caldeu Hamurabi como sendo a sede do culto de Istar. Em (2Rs 19.36) e em (Is 37.37) é ela, pela primeira vez, claramente indicada, como residência do monarca da Assíria. O rei assírio Senaqueribe reedificou-a, e foi morto ali quando estava em adoração no templo de Nisroque, seu deus. Nos dias do profeta Jonas era aquela capital uma cidade mui importante [...] e de três dias para percorrê-la” (Jn 1.2; 3.3). Os ninivitas era um povo de guerra, e eram conhecidos por sua crueldade. São indescritíveis as torturas que eles aplicavam aos seus prisioneiros. A arte bélica era a principal característica dos assírios. Os palácios de Nínive eram cobertos de esculturas em baixo-relevo, representando cenas de batalhas e da vida cotidiana dos assírios. Nos tempos de Jonas calcula-se que sua população era de 600.000 habitantes, incluindo 120.000 crianças e muitos animais.
O muro externo da cidade tinha 96 Km de extensão, 30 metros de altura e uma largura suficiente para três carroças conduzidas lado a lado. Havia 50 torres de 60 metros de altura para o serviço de vigilância realizado pelas sentinelas (ELLISEN, 2012, p. 352).
IV – A MENSAGEM DE DEUS ATRAVÉS DE JONAS
Este livro é um sério apelo para a ação evangelística e missionária da Igreja, que foi chamada para proclamar a Palavra (Mt 28.18-20; Mc 16.15-18; Jo 20.21; At 1.8). Jonas é, com certeza, um profeta bem diferente dos demais chamados de “menores”. Ele teve
um chamado missionário, e fez o que foi possível para fugir dessa vocação divina. O tema principal do livro é a infinita misericórdia de Deus e a sua soberania sobre TODAS as nações, ou seja, o Senhor está interessado em salvar TODASas pessoas de TODAS as nacionalidades e de TODAS as tribos (Ap 7.9-10). Segundo Donald Stamps o comentarista da Bíblia de Estudo Pentecostal (1997, pp.1312-1313), depreende-se neste livro uma tríplice mensagem: demonstrar a Israel (Reino do Norte) e às nações pagãs a magnitude e a ampliação da misericórdia divina através da pregação do arrependimento; demonstrar, através da experiência de Jonas, até que ponto Israel (Reino do Norte) decaía de sua vocação missionária original, de ser luz e redenção aos que habitam nas trevas (Gn 12.1-3; Is 42.6-7; 49.6) e lembrar ao Israel apóstata que Deus, em seu amor e misericórdia, enviaria à nação, não um único profeta, mas muitos fiéis, que entregariam sua mensagem de arrependimento.
V – O PROFETA QUE FUGIU DE SUA MISSÃO
Quando Deus mandou Jonas pregar àquela cidade, ele recusou-se a ir, por causa do ódio que sentia pelos assírios (Jn 4.1-4).
Os guerreiros assírios eram considerados os mais sanguinários e brutais e gostavam de inventar novas formas de torturar os prisioneiros. Frequentemente, obrigavam seus prisioneiros abrir a barriga das grávidas e arrancarem seus filhos e lançarem nas pedras,
arrancavam a pele das pessoas, suas unhas, seus olhos, sua língua ou as erguiam no ar espetadas no peito por uma grande lança.
Talvez, pelo fato de conhecer a crueldade dos assírios, Jonas tenha relutado, pois seu próprio povo já tinha sofrido muito nas mãos deles e, naquele tempo, seus exércitos ameaçavam Israel. Seu livro mostra a resistência desse profeta ao propósito divino de evangelizar a raça mais cruel do mundo da época. E o que vamos verificar é que o inexplicável amor de Deus para com Nínive não encontra eco no coração de Jonas. Foram os preconceitos de Jonas que o levaram a fugir da Missão que Deus lhe havia ordenado.
Vejamos quais são:
• Preconceitos políticos: Os ninivitas eram velhos inimigos de seu povo;
• Preconceitos raciais: Os ninivitas eram gentios e não pertenciam ao povo escolhido (Israel);
• Preconceitos religiosos: Os ninivitas eram um povo tão idólatra e pagão que nem devia ser perdoado.
Quantas vezes os nossos preconceitos nos impedem de sermos úteis a Deus. Os nossos preconceitos as vezes sufocam o amor às pessoas; aniquila nossa compaixão; obscurece nossa visão; seca as fontes da nossa espiritualidade e empobrece nossa mensagem. Jonas conhecia muito bem Nínive e a odiava porque sabia de suas crueldades, e também conhecia a Deus e seu amor, e sabia que Ele é misericordioso e grande em benignidade (Jn 4.2) e com certeza iria dar uma oportunidade de conversão aquele povo pagão. De acordo com a Revista Ensinador Cristão (2012, Ano 13, nº 52, p.39), não é demais chamá-lo de: egoísta: ele pensou em si mesmo com seu indiferentismo, e não na nação á qual Deus mandara ir; vingativo: ele desejava que os ninivitas fossem exterminados por Deus, por causa dos seus pecados e das atrocidades que cometeram e orgulhoso: seu senso nacionalista era muito forte, fazendo-o crer que ele estava acima da vontade de Deus.
Apesar da relutância em levar a mensagem, os ninivitas demonstraram a sua fé em Deus, humilhando-se perante Ele e jejuando, onde até mesmo a inclusão de animais no jejum é documentada em fontes extrabíblicas, tais como Heródoto, historiador grego, nascido no séc. V. a.C.
VI – A ATUALIDADE DA MENSAGEM DE JONAS PARA A IGREJA
Jonas era o típico judeu que nunca entenderia como seria possível que Deus viesse a amar os assírios. Ao contrário, ele esperava que o Deus Javé se voltasse contra eles e os destruísse. O registro da missão do profeta jonas é LITERAL, e portanto, HISTÓRICO e não ALEGÓRICO como alguns teólogos liberais afirmam. Assim, o livro foi interpretado pelo Senhor Jesus (Mt 12.38-42; 16.4; Lc 11.29-32). O relato de Jonas mostra que ninguém pode fugir de Deus, e que o amor de Deus excede todo entendimento humano (SOARES, 2003, p.210). Ao invés de ir para Nínive (atual Iraque), Jonas tomou um navio para Társis (considerada por muitos estudiosos, como sendo Tartessus, situada na costa sudoeste da atual Espanha), um lugar muito distante de onde Deus o havia enviado.
O registro de Jonas é uma ilustração veterotestamentária da verdade contida em João 3.16 “Porque Deus AMOU O MUNDO de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que TODOaquele que nele CRÊ não pereça, mas TENHA a vida eterna”.
Deus ensina ao profeta contrariado, que Ele se deleita em colocar sua graça à disposição de TODOS os homens sem acepção, e não apenas de Israel e Judá. O Senhor faz o profeta entender que tomou as providências para que houvesse uma missão de misericórdia, com a finalidade de prover remédio para o pecado e para a degradação moral e espiritual de todo o mundo e demonstrar ainda que: Deus está interessado não somente em um povo seleto (Israel), mas também nos gentios (Gn 12.1-3; Is 42.6-7; 49.6). Se Deus teve tanto interesse pelo futuro de Nínive uma nação pagã, então TODOS OS POVOS devem ser vistos como objetos de seu amor, graça e misericórdia. E assim Jonas aprendeu a lição:
• Que a salvação não é recebida por obras, mas pela graça mediante a fé demonstrada pelo arrependimento, como ocorreu com os ninivitas (Rm 10.9; 13; Ef 2.5; 8);
• Que o Deus dos hebreus, também expressava amor e interesse pelo mundo todo, e que oferecia o perdão e salvação até mesmo aqueles que Jonas preferia odiar (Jn 4.10-11);
• Que ele mesmo experimentou o perdão de Deus quando foi desobediente e recebeu uma nova oportunidade para obedecer, e esta mesma oportunidade foi dada aos ninivitas (Jn 2.1-10; 3.1);
• Que Deus julga a iniquidade em todas as esferas e, do mesmo modo, reage ao arrependimento de todas as nações (Ez 18.21).
CONCLUSÃO
Ao estudar o livro de Jonas, percebemos que fora escrito com o propósito de lembrar o alto valor da pregação missionária.
Deus não quer que ninguém se perca, mas deseja que todos venham ao arrependimento (2Pe 3. 9). E que apesar das imperfeições do pregador, a mensagem de Deus alcançou o resultado desejado e sua imensa compaixão pelos homens foi demonstrada eficazmente.