INTRODUÇÃO
Nesta lição, definiremos o termo
“perda”. Destacaremos as fontes por meio das quais o homem pode adquirir bens.
Veremos também, que tudo o que possuímos materialmente é transitório, não dura
para sempre e nem preenche o vazio da alma. Pontuaremos ainda o que pode levar
a pessoa a perder as suas posses. E, por fim, elencaremos quais as atitudes que
o cristão deve tomar diante da perda dos bens terrenos.
I – DEFINIÇÃO DE PERDA
Segundo o Aurélio, a palavra “perda” significa: “privação de
alguma coisa que se possuía, extravio, sumiço, destruição, ruína,
aniquilamento”. Do grego “zemioõ” significa “danificar” ou
ainda “sofrer perda, perder”. Em (Mt 16.26 e Mc 8.36), fala de perder a vida;
em (Lc 9.25) de prejudicar-se a si mesmo. Já o termo “zemia” significa “dano,
perdição”
e é usado acerca de um navio que
perdeu sua carga (At 27.10, 21).
II – AS FONTES DOS BENS TERRENOS
2.1 Abenção de Deus. Não resta dúvidas de que Deus concede bençãos materiais: “E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas e
bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua porção, e gozar do seu
trabalho, isto é dom de Deus” (Ec
5.19). Afinal de contas, Ele é o dono de tudo (Sl 24.1), e outorga riquezas a
quem Ele quer (I SM 2.7; Pv 10.22). A exemplo disto temos: Abraão (Gn 24.1),
Salomão (I Reis 3.13), Jó (Jó 1.2, 3), Davi (II Sm 12.7,8) entre outros (II Cro
18.1; 32.27).
2.2 Por herança. O homem pode adquirir posses também por herança. O Aurélio diz
que herança é “bem, direito ou obrigação transmitidos por via de sucessão ou
por disposição testamentária”. Exemplos bíblicos: Nabote (I Re 21.3),
Mefibosete (II Sm 9.7).
2.3 Resultado do trabalho. É importante salientar que qualquer pessoa, seja ela crente ou
não, que se qualifique, trabalhe, mostre dedicação e se esforce, obterá bons
resultados para sua vida material, pois, Deus dispensa a sua benção a todos
indistintamente: “E
também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto
é um dom de Deus” (Ec
3.13). Confira ainda: (Ec 2.24; 5.18, 19; Mt 5.45).
2.4 De forma ilícita. A expressão “ilícita” conforme o Aurélio, quer dizer: “proibido
pela lei, ilegítimo”. Não se pode negar que nem todo bem adquirido é licito.
Vivemos num país onde existe muita corrupção e têm seduzido muitas pessoas ao
“dinheiro fácil”. A Bíblia, no entanto, adverte quanto ao perigo das riquezas
obtidas de forma errada, ou seja, conquistados desonestamente: “A riqueza de procedência vã diminuirá, mas quem a
ajunta com o próprio trabalho a aumentará” (Pv 13.11). Devemos ter
cuidado, pois nem sempre o que é legal é moral (Hc 2.9; Pv 28.20; I Co 5.10;
6.10).
III – A TRANSITORIEDADE DOS BENS
TERRENOS
Não é pecado desejar, buscar e
adquirir bens terrenos. O pecado consiste em colocar a riqueza como prioridade
(Mt 6.24; Lc 12.15; Ef 5.3; Cl 3.5). A Bíblia nos ensina que tudo o que o homem
vier a possuir materialmente, não poderá levar para sempre consigo. O apóstolo
Paulo asseverou isto quando disse: “Porque
nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele” (I Tm 6.7). Logo,
deve-se destacar três verdades acerca dos bens terrenos:
3.1 Eles são transitórios. Tudo o que possuímos materialmente é transitório (Pv 27.24). O
nosso dicionário define esta palavra como: “de pouca duração; passageiro”.
Devemos estar conscientes de que os bens terrenos são passageiros, por mais que
possamos usufruí-los. As posses estão restritas a esta vida, pois quando
partirmos para estar com Cristo, nada levaremos “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o
conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra
nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”. (Ec
9.10).
3.2 Eles não são duradouros. Tudo o que é material se destrói, se corrompe (Tg 5.2,3).
Somente os bens espirituais é que são permanentes (I Pe 1.4). Logo, devemos
estar atentos para a exortação de Jesus quanto a preocupação exagerada com o
acúmulo de bens terrenos, porque eles se estragam: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e
a ferrugem tudo consomem, e onde os
ladrões minam e roubam” (Mt 6.19).
3.3 Eles não preenchem o homem. Por mais que os bens possam nos conceder regalias, conforto e
direitos, eles não conseguem preencher o vazio que há dentro do homem. A Bíblia
diz que Zaqueu era um homem que desfrutava de uma alta posição e que era rico
(Lc 19.2), porém sentia falta de algo, pois “procurava
ver quem era Jesus” (Lc
19.3). De fato, as riquezas atendem algumas necessidades do homem, mas não
todas. Por isso Jesus disse: “Pois
que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que
dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16.26).
IV – O QUE PODE LEVAR UMA PESSOA A
PERDER SEUS BENS
4.1 Falta de sabedoria. A expressão em destaque no grego é “phronesis” que significa:
“entendimento, prudência”, ou seja, o uso correto da mente”. Infelizmente, não
são poucas as pessoas que por falta de sabedoria acabam perdendo aquilo que
possuem. É preciso entender que qualquer coisa boa nas mãos de um falto de
entendimento logo se destrói:
“Passei pelo campo do preguiçoso, e
junto à vinha do homem falto de entendimento, eis que estava toda cheia de
cardos, e a sua superfície coberta de urtiga, e o seu muro de pedras estava
derrubado” (Pv 24.30,31).
4.2 Falta de Equilíbrio. São muitos os que arruínam suas posses por falta de equilíbrio.
É preciso agir com moderação também com aquilo que possuímos. A Bíblia nos
relata a história de Nabal, que era um homem muito rico, porém muito duro e
maligno (I Sm 25.2,3). Este negou ajudar Davi com suas posses, e Deus lhe feriu
por ser avarento e sem compaixão (I Sm 25.37,38). Existe um aspecto do fruto do
Espírito, que é implantado no crente regenerado, chamado de temperança (Gl
5.22). Esta palavra no grego é “engkrateia” que nos passa a ideia
básica de força, poder ou domínio sobre o ego. Paulo exorta os que possuem
riquezas a serem moderados (I Tm 6.8-10; 17-19).
4.3 Provação. Não podemos negar que um crente pode vir a perder suas posses
por uma provação. O verbo provar no hebraico é “tsãraph” que quer dizer:
“refinar, provar, fundir”. A Bíblia diz que Deus prova os seus (Êx 20.20; Dt
8.2; I CRO 29.17; Sl 7.9; Jo 6.6; At 14.22; I Pe 4.12-19). O patriarca Jó foi
acusado por Satanás de servir a Deus com sinceridade, retidão, temor e
prudência em troca de sua proteção (Jó 1.9-11). Todavia, Jó, em meio a mais
intensa dor de ter perdido riquezas, filhos e saúde, permaneceu firme e
glorificou ao Senhor (Jó 1.13-22), provando assim seu amor verdadeiro por Deus
(Jó 19.25).
V – COMO LIDAR COM A PERDA DOS BENS
TERRENOS
Enquanto estivermos no mundo,
estamos sujeitos a passar por momentos difíceis: “No mundo tereis aflições...” (Jo 16.33-a).
Enfermidade, morte, violência, privações materiais, perseguições, angústias e
outros males podem sobrevir ao crente. No entanto, a Bíblia nos ensina como
devemos proceder quando nos depararmos com momentos de perda. Vejamos:
5.1 Tendo fé em Deus. Otermo fé, do
hebraico “heemin” e do grego “pisteuõ” é definido pela própria
Bíblia como “...o
firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não
vêem” (Hb
11.1). É a confiança que depositamos em todas as providências de Deus (Gn
22.8). É a crença de que Ele está no controle de tudo, e que é capaz de manter
as leis que estabeleceu (Is 43.13). No livro de Jó encontramos ele perdendo
seus bens, no entanto, vemo-lo conservando a sua fé: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por
fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25). Semelhante
convicção demonstrou o apóstolo Paulo diante das mais severas provações: “Por cuja causa padeço também isto, mas não me
envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso
para guardar o meu depósito até àquele dia” (II Tm 1.12).
5.2 Aceitando a vontade divina. O nosso Deus é Soberano. Isto significa dizer que Ele exerce
autoridade absoluta e inquestionável sobre todas as coisas criadas, quer na
terra, quer nos céus. Portanto, como seus servos devemos aceitar seus desígnios
sem questionar (Rm 9.20). É o que nos ensina Jesus Cristo na oração modelo: “... seja feita a tua vontade, assim na terra como
no céu...” (Mt
6.10). Vemos essa submissão a vontade de Deus bem expressa nas palavras de Jó,
quando diante de todas as calamidades que lhe aconteceram, disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para
lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR” (Jó 1.21).
5.3 Permanecendo firme. Definitivamente, é praticamente impossível viver sem passar por
crises, pois a vida é composta inevitalmente de dias maus: “Porém, se o homem viver muitos anos, e em todos
eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser
muitos. Tudo quanto sucede é vaidade” (Ec 11.8). Logo, o justo
pode até vir a abalar-se diante das perdas, porém, deve permanecer firme no
Senhor (Ef 6.13). O termo “firme” no grego “bebaios” significa: “estável,
seguro”. Por isso, o alicerce da nossa vida não deve estar fundamentado nas
posses materiais, e sim, na obediência à Palavra de Deus, porque quando as
tempestades nos sobreveem, avaliam a qualidade do nosso alicerce (Mt 7.24-27) e
também onde realmente está o nosso coração - se nas coisas materiais ou
espirituais: “Porque,
onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12.34). Portanto,
imitemos a conduta do patriarca Jó diante das perdas que sofreu: “Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus
falta alguma” (Jó
1.22).
CONCLUSÃO
O cristão não está isento de sofrer
abalos também em sua vida material, fazendo com que venha a perder seus bens
(Jó 1.13-19). No entanto, a exemplo dos fiéis servos de Deus, devemos nos
posiciar com fé, submissão e firmeza, sabendo que não somos donos do que temos,
mas mordomos (I Co 7.30). Cientes de que os bens eternos, são melhores, pois
estão guardados em um lugar totalmente seguro, e neles é que o nosso coração
deve estar” (Mt 6.20,21).